domingo, 10 de abril de 2011

A análise compulsória...

Nunca tive muita vocação para escrever sobre os problemas psíquicos das pessoas. A única vez que fiz isto, minha caixa de e-mail lotou com um número nunca mais alcançado de comentários e críticas. Pena que a maioria delas me condenando pela completa falta de conhecimento do que havia escrito.

Com toda razão.

Não tenho nem prática, nem estudo e muito menos contato com qualquer tipo de psicopata, sociopata, ou qualquer outro tipo de pata que existe por ai, apesar de ter tomado tantas em tais comentários. Não sei identificá-los como defendi há cinco anos atrás, e admito meu erro com a maior naturalidade do mundo. Até hoje as pessoas entram em contato comigo me perguntando como eu os enxergo, e hoje um pouco mais adulto, admito: não faço a mínima idéia. Desculpem-me pelas palavras errôneas do passado e pelas possíveis influências que minha ignorância jovem e inconseqüente deve ter criado.

A idéia deste texto de hoje surgiu da tragédia do Realengo, claro. A palavra psicopata vem sendo explorada e utilizada em larguíssima escala pela mídia e pelas pessoas em geral, mas baseado na experiência supracitada me nego a seguir o fluxo. Só quem pode falar ou explicar tal termo é quem o conhece e, além disto, estou analisando a situação de outra maneira.

Confesso que não tenho pensado no assunto horrorizado com a tamanha atrocidade que o tal rapaz cometeu, mas sim no que o levou a realizar tal ato. E isto sim, é o que me deixa com o resto dos meus cabelos em pé.

Com o tempo treinamos para identificar causas observando apenas as conseqüências. A conseqüência de tudo foram os tiros que mataram mais de uma dezena de pré-adolescentes, e feriram outra mais de dezena. As causas, a meu ver, dizem respeito também a prováveis abusos infantis, sinceramente.

Comecemos pelo inicio, apesar da redundância:

- Ninguém entra em algum local, seja ele qual for, atirando com convicção em jovens inocentes sem ter algumas motivações em especial. Uma destas motivações pode estar ligada ao local em si, neste caso, a escola. O autor dos disparos estudou em tal local em sua infância, freqüentou aqueles corredores e salas diariamente e segundo relatos que li na imprensa sensacionalista internética, sofreu abusos infantis em forma de termos humilhantes e violência física. Sim, estou falando em bullyng. A raiva expressada através dos sessenta e seis tiros disparados em tal local para mim está clara, e me faz pensar o seguinte: se nos preocupamos apenas um pouco com os traços deixados por abusos mútuos praticados por crianças e adolescentes de hoje, a verdade das possíveis conseqüências destes abusos no futuro nos é jogada na face por este acontecimento. Está na hora de nos preocuparmos mais com a educação de nossos filhos, não para que os mesmos não sejam vitimas destes abusos, mas sim para que não sejam os causadores.

- Outro fato que me chamou a atenção foi o perfil das vítimas fatais e não fatais. Quase todas meninas e da mesma idade. Dos adolescentes que vieram a óbito, onze eram meninas e apenas um menino. Ouvi o Bonner dizer que antes de atirar, o assassino ordenava que as vítimas ajoelhassem e indagava: - “Tu és virgem”? Se a menina respondesse que sim, era sumariamente executada com tiros na cabeça, no rosto ou no abdômen. Qual o intuito de eliminar virgens? Seria evitar que as mesmas se tornassem “impuras”? A análise deste ponto vem junto com o próximo.

- Na carta suicida, o jovem atirador externou um exagerado fanatismo religioso, além de uma aversão enorme ao ato sexual. Chegou a expressar vontade de após morto, não ser ao menos tocado por aqueles que praticaram sexo fora do casamento ou adúlteros. Juntando isto ao fato apontado no ponto anterior, concluo sem muita certeza a probabilidade deste jovem ter sido abusado sexualmente na infância e até na adolescência. Estava talvez, em seus pensamentos e conclusões doentias, tentando evitar que estas meninas sofressem do mesmo “mal” que particularmente, o sexo representava.

Por óbvio, senhor leitor ou senhora leitora que gosta de achar pêlo em ovo, que não procuro aqui defender este verdadeiro animal covarde que assustou a todos neste país. Apenas me expresso no sentido de que para cada ação existe uma reação, para cada maldade existe um trauma, e para cada trauma existe uma conseqüência, seja ela expressada em sofrimentos particulares ou... atrocidades loucas desvairadas.

Se nos preocupássemos mais em respeitar o próximo, a sua integridade física e moral, ensinássemos os nossos filhos a fazer o mesmo, talvez muitos destes momentos nem ao menos existiriam. Talvez até grande parte de nossos próprios sofrimentos não existiriam.

Lembrem-se: ninguém nasce maldoso, não existe raça ou linhagem humana que geneticamente transfere a seus descendentes esta característica. Todos nós somos formados e moldados de acordo com o contexto em que estamos inseridos desde o nosso primeiro dia de gestação até o momento de nossa morte. Portanto, acorde! Já admiti que não sei o que é um psicopata, mas não é necessária tanta inteligência assim para sabermos como um é formado. Pare de traumatizar outras pessoas, pare de ensinar seus filhos a fazerem isto, pare de aceitar que mazelas da vida em sociedade são comuns, normais e até corriqueiras...

... pois se isto não mudar, um belo dia o que aconteceu ontem será tão corriqueiro quanto...