Todos nós,
inclusive aqueles que não são ligados à área do direito, estamos acostumados a
figura do tribunal. Sempre quando pensamos nesta palavra, facilmente conseguimos
imaginar um juiz a julgar, jurados ouvintes atenciosos a direita, o réu individuo
que está sendo acusado sentado ao meio, seu advogado tentando lhe defender ao
seu lado e o promotor em pé a acusar. Existe até um gênero de filmes e séries
americanas que usam julgamentos como temática, os chamados filmes de tribunal: “Perfume de mulher” e “Law and order” são
exemplos clássicos.
Se ao ler
isto, conseguiste imaginar o que é um tribunal também, meio caminho andado para
mim. Hoje escrevo não para falar sobre algum júri popular ocorrido ultimamente,
ou algum julgamento que está ocorrendo, ou até de algum que já tenha presenciado.
Escrevo para enfim, explicitar o tão esperado momento onde eu mesmo, com uma
pequena ajuda, consegui enxergar qual é o grande júri da vida, aquele que
realmente importa: o nosso próprio.
Não sei se
já conseguiste perceber, mas diariamente nos encontramos em sucessivos juris,
em sucessivos “autojulgamentos”. Se já conseguiste perceber, parabéns, pois só
agora este fato saltou-me aos olhos, só agora consegui perceber as figuras
presentes do réu, do promotor, do juiz, do júri e do advogado de defesa, todas
elas concentradas na minha própria pessoa.
Coisa de
maluco¿ Pode até ser. Mas quantas vezes já pegaste o promotor interno te
acusando ferrenhamente, te chamando de fracassado, perdedor, preguiçoso, e até
mesmo... feio¿ Quem nunca aqui já não se pegou convencido de algo negativo
sobre si mesmo, apesar de todas as evidências apontarem na direção contrária¿
Imagine o
tribunal. Agora imagine o réu, o promotor, o juiz e o advogado de defesa, agora
imagine todos eles dentro de sua cabeça atuando, representados pela sua própria
pessoa. O que quero dizer é que internamente nos auto acusamos todos os dias,
nos auto defendemos, nos auto julgamos e nos auto condenamos ou absolvemos.
Mas, garanto a você, querido leitor, que o promotor, aquele que acusa,
insistentemente obtém vitórias memoráveis sobre o advogado de defesa, que tal
qual um palerma astronômico, não tem competência para combater tais acusações
sucessivas. E nós, desta maneira, somos autocondenados todos os dias, todas as
horas, todos os minutos.
Um salve
para aqueles que foram criados aprendendo a se autodefenderem de si mesmos.
Sei que isto
parece figuração de advogado novo que gosta da área que atua, e sei também que
para os entendidos em psicologia o que escrevo aqui parece mais artimanha de
terapeuta para fazer-nos entender como funcionam nossos esquemas mentais. Mas
sinceramente confesso novamente o que confessei antes: pela primeira vez na
vida, percebi que meu promotor interno me acusa de muita coisa injusta, e a
vida inteira, inteirinha, obteve vitórias memoráveis, conseguindo que eu me
autocondenasse em todos os grandes e importantes aspectos da vida.
Está na hora
de deixar o advogado de defesa trabalhar. Está na hora de me autodefender de
mim mesmo. Está na hora de colocar o promotor em seu devido lugar, negar-lhe as
acusações, demonstrar ao juiz as provas abundantemente existentes do contrário,
e deixar que o réu (eu mesmo) saia absolvido de algo pelo menos uma vez na
vida. Chega de se autocondenar, chega de se autoconvencer das infelicidades não
existentes, dos fracassos inverídicos, das derrotas que nunca foram nem jamais
serão ao menos... reais.
No grande
júri interno da vida, somos nós quem comandamos as peças deste tabuleiro
jurídico, e somos nós quem determinamos quem será e sairá vitorioso. Basta
apenas aprender a como corretamente manuseá-los, a como fazer com que o
advogado de defesa seja digno de vitórias memoráveis nos juris diários que nós mesmos,
nos impomos.