segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Do esterco saem ensinamentos...

Estes tempos, durante um curto final de semana onde fui visitar os parentes em Guaporé, passei de carro enfrente ao terreno onde era a casa da minha avó materna Olga.
Ela era uma autêntica italianinha (1,50 metro) prendada que costumava assumir todas as tarefas do lar, o que naquela época, demandava no mínimo 15 ou 16 horas por dia, incluso aos domingos. Era a lenha que precisava ser cortada, o fogão queimando o dia todo para cozinhar, esquentar a água para o banho, a brasa para o ferro de passar e também para aquecer os quartos no inverno, o galinheiro que precisava ser limpo, os ovos recolhidos, as galinhas tratadas (por vezes mortas para o jantar), o milharal que necessitava de atenção, a limpeza da casa, das roupas, dos animais... entre tantas outras atividades compulsórias da vida no interior de antigamente.
Casada com um descendente de negros, o que naquela época (1936) era algo quase impossível de acontecer, pode-se dizer que foi pioneira em se libertar das amarras impostas pela família e pela sociedade em uma cidade predominantemente preconceituosa para ser feliz. Foram 81 anos de vida, cinco filhos criados, sendo minha mãe a caçula e única mulher.
A casa era uma autêntica casa de italianos que ainda existe aos borbotões por ai no interior do Estado. No primeiro andar, o porão com piso de chão batido, portas de madeira trancadas com tábuas atravessadas (algumas com ferraduras penduradas) e paredes de alvenaria feitas com tijolos pequenos e reboco simples. No segundo piso, uma casa de madeira amarela com poucos cômodos, um banheiro simples com piso de concreto cru pintado de vermelho, a cozinha grande e a sala cheia de estatuetas de santos, um relógio cuco barulhento e duas poltronas, ocupadas respectivamente pela Vó e pelo Vô Negri. Nos fundos havia um galinheiro, uma grande horta, e alguns pés de cana que me lembro de mastigar nos verões.
Em verdade a casa já não existe mais desde a sua infeliz passagem, há 15 anos atrás. Em nada, tirando algumas arvores frutíferas plantadas pelo meu avô que ainda estão lá, o local se assemelha ao que era na minha infância. Há tempos aquela casa deu lugar a um pequeno conjunto habitacional.
Dentro do porão, além de uma infinidade de coisas úteis e inúteis guardadas, existia um balanço feito com cordas rústicas e uma tábua de madeira azul, que ficava ao lado da porta da frente. Certa vez, quando eu tinha apenas uns 5 ou 6 anos de idade, me recordo de estar sentado me balançando, e ver um cavalo passar e defecar bem de fronte a porta. Aquilo me deu um nojo absurdo, como daria em qualquer um, por conta do cheiro e do aspecto terrível que aquele esterco tinha. Sempre fui um garoto de cidade de certo modo, e definitivamente não estava acostumado a ver animais defecando na porta da casa onde eu estava.
Não consegui voltar para o balanço enquanto não vi minha Vó atravessando o porão com uma pá na mão.
Com destreza, ela juntou tudo o que havia no chão e sorrindo, já no caminho de volta por dentro do porão e em direção à horta, me falou:

- “Isto eu vou aproveitar”.

Aquilo para mim foi perturbador. O que minha Vó poderia querer com aquele monte fedorento de estrume de cavalo? Onde ela ia colocar aquilo?
Em resposta à provável cara de nojo que fiz, sentado no balanço, ela prontamente me explicou:

- “Este é o melhor adubo que existe! Os pé de radicci vão crescer mais forte!”.

Minha Vó foi para um lugar melhor antes que eu pudesse conhecê-la realmente. Apenas durante a minha infância tive convívio com ela e com meu Vô, um dos aspectos ruins de ser caçula filho de dois caçulas. Mas naquele momento, mesmo sem querer, ela eternizou-se nos meus pensamentos com um ensinamento que talvez nunca imaginasse ensinar para alguém.

De tudo nesta vida podemos aproveitar algo. De qualquer coisa se tira uma boa utilidade, inclusive do esterco que fede. Aquele pequeno monte de estrume ajudou para que algo no futuro fosse parar na mesa da família, incluso talvez no meu prato durante mais alguma visita.

É nojento pensar nisto? É sim, talvez tanto quanto pensar que o que nos causa problemas e sofrimentos hoje, pode ser no futuro, algo que nos ajude a crescer/fortificar.

Feito adubo...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A atendente da oficina

Encontrei o Marcelo na rua estes dias e, como sempre, as risadas eram tão altas que chegavam a assustar quem passava.
O guri tornou-se um pequeno empresário bem sucedido. Abriu um negócio próprio nos últimos anos e, com a seriedade e o trabalho que só um cara como ele pode ter, a coisa está prosperando muito (mentira, o negócio está prosperando porque o cara arranjou uma mulher que colocou não só o empreendimento no lugar, mas como ele no lugar também...).
Pra variar, o que sobrou neste papo foram histórias engraçadas. O cara é o parceiro perfeito para se garantir momentos de bom-humor, e simplesmente não é possível encontrá-lo sem dar no mínimo uma meia dúzia de gargalhadas a plenos pulmões.
O Marcelo é um cara que nunca entendeu patavina de mecânica. O vivente não sabe nem trocar pneu direito (disse-me que aconteceu estes dias de furar um na estrada, e que quem trocou foi a “patroa”, enquanto ele fumava um cigarro... não tem nem vergonha o desgraçado). A história que me contou para admitir esta ignorância foi uma das épocas de solteiro.
Ele era dono de um Palio novinho na época, e infelizmente, logo depois que comprou o carro, envolveu-se em um acidente. Uma camionete o fechou em uma curva na estrada do mar, e os danos, “graças à Santa Madre Paulina” (o cara é devoto) foram apenas materiais. Diz ele que a frente do coitado do Palio se acabou, e que tiveram que colocar outra toda nova.
O seguro da camionete, causadora do acidente, pagou por todos os inconvenientes causados por seu motorista. Podendo escolher o local do concerto, Marcelo escolheu uma mecânica-chapeadora muito conhecida e que fica bem pertinho da sua casa. Chegando lá, viu uma enorme oficina que só trabalha com sinistros assegurados, e deu de cara com uma atendente que, muito simpática, veio atendê-lo:

- “O Senhor fará o serviço através de alguma seguradora?” – Perguntou.
- “Sim, farei.” – Respondeu, olhando para as belas pernas nuas torneadas pelo salto alto e pela mini-saia que a tal atendente vestia.

Palavras dele para descrever o que tinha visto:
- “Rafael, pensa em gostosa... agora pega esta gostosa que tu pensaste e multiplicas a gostosura por três. A mina não era boa velho, ela simplesmente tinha a bunda mais gostosa que eu já vi! E os peitos então! Nunca vi coisa tão boa!”
A atendente pediu o número de telefone dele, e deu da oficina, para que qualquer informação sobre o concerto fosse repassada ou perguntada na hora.
De acordo com o que me relatou, o que ele não sabia era que ela, que estava ali toda limpinha, na verdade era uma das que mais entendia de motores e carros ali dentro. A mulher era engenheira mecânica, e além disto vivia dentro daquela oficina desde criança, se sujando de graxa e brincando entre eleva-cars e ferramentas.
Três semanas depois, quando o Paliozinho ficou pronto, ele, todo empolgadão, foi de banho tomado e barba feita buscar o carro. Encontrou-a melhor do que nunca: calça branca da Brasil-Sul com bota bico-fino-salto-agulha preta até os joelhos...
Logo já foi perguntando sobre o serviço, até para que algum assunto fosse puxado:

- “Como ficou meu carro... você sabe?”
- “O serviço ficou ótimo Senhor. O Senhor vai gostar”. – Respondeu ela.

Ansioso para que aquele papo continuasse, perguntou ele, tentando impressiona-la com seus conhecimentos (inexistentes) de mecânica:

- “Afetou o carburador? E o estepe ali do motor? Deslocou de lugar”?

Fazendo cara de deboche, ela respondeu:
- “Meu Senhor, o seu carro é um Palio 2006 quase zero quilometro. O carburador foi substituído pela injeção eletrônica nos automóveis nacionais desde a o final da década de 80. Já o estepe... bom, o estepe fica na parte traseira do automóvel, debaixo do assoalho do porta-malas... já que o seu sinistro foi na parte frontal do carro, qualquer um que sabe ligá-lo poderia entender que o mesmo não foi atingido...”.
- “Ah tá. Só pra perguntar...”.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Irritando Rafael Fernando...

Para mim televisão é entretenimento, é diversão. Mas esta diversão por si pode ser inteligente às vezes. Adoro um programa que assisto no GNT todas as segundas no início da madrugada, intitulado Irritando Fernanda Young.
Confesso que a figura da apresentadora me atrai. Sexualmente falando mesmo. Se fosse analisar o porquê, acho que a imagem de mulher bonita a seu modo e segura de si é super sensual apesar de me assustar um pouco. Mas este não é o ponto que quero focar.
Quero falar da inveja que sinto. A coluna cervical do programa é bem simples: a apresentadora entrevista um convidado, e ambos discutem sobre o que mais irrita tanto a um, quanto a outro. Fala-se sobre tudo, desde hábitos de higiene até situações profissionais ou do cotidiano. É de uma criatividade muito simples e que eu sinceramente gostaria que fosse minha. O assunto é curioso, comum e divertido, e tem como efeito o que eu chamo de “é mesmo”, ou seja, consegue explicitar o que todo mundo sabe ou sente, mas não percebe.
Sirvo como exemplo neste caso. Todas as edições me pego pensando sobre o quanto os aspectos que eles abordam me irritam.
Como diz o ditado, “nada se perde, nada se cria, tudo se copia”. Já que com toda certeza nunca serei entrevistado no programa dela, e que com mais certeza ainda, também nunca terei um programa só meu, utilizo-me do meu paupérrimo blog para reproduzir de maneira direta uma pequena lista de algumas coisas que me tiram do sério. Se concordares comigo, ou tiveres algo a acrescentar de maneira particular, comente mais tarde.

O que me irrita:

- Tele marketing;
- Gente assoando o nariz perto de mim;
- Cheiro de asa;
- Conversas paralelas durante a aula;
- Homem que cozinha;
- Mania de limpeza;
- Atrolho, fila, mau atendimento e falta de segurança em balada;
- Bahia;
- Emo;
- Gillete nova;
- Velha que quer ser jovem e fala alto para chamar a atenção;
- Preconceito;
- A rivalidade “saudável” da dupla Grenal;
- Falar a mesma coisa três ou mais vezes e a pessoa insistentemente responder “hein!?”;
- Politicagem radical;
- “Homem é tudo igual”;
- Papo de malandrão: “Porque eu faço porque eu pego porque eu bebo porque eu brigo porque eu como porque eu acelero porque eu bato porque eu me chapo...”;
- “Bem cuidado aí tio”;
- Mulher com bafo e pelo no sovaco;
- Calor;
- Silicone exagerado;
- Pé feio;
- Cabelo de crente (nada contra ser crente, apenas contra o cabelo);
- Fofoca de historinha inventada;
- Tigrona de bailão;
- “Caiu na rede é peixe”;
- Surdina de CG e RD;
- Vizinho do andar de cima;
- Dono de camionete importada;
- Me acordarem gritando;
- Gente violenta;
- Barraco de velha com velha no meio da rua;
- Corneta de sorveteiro;
- Cheiro de peido no elevador;
- Chimarrão entupido;
- Mastigação de boca aberta;
- Torcedor fanático e que só critica;
- Policial que acha que pode te tirar pra guri e te mijar;
- Não cagar nem desocupar a moita;
- Gente que demora muito no banheiro;
- Desperdício exagerado;
- Falador metido a engraçado onde não tem que ser;
- Mulher que quer mandar em homem e vice-versa;
- Casa cor de rosa;
- Guria com bota do Frankstein;
- Quem fica pedindo chance sem ter feito nada errado;
- Espinha no nariz;
- Verruga peluda;
- Quem começa a falar algo e não termina, despertando curiosidade;
- Quem meche nos espetos de carne enquanto eu asso; E por fim:

- O quanto eu mesmo me acho chato. Hehehehe...

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O instinto canino...

Já comentei por aqui que quem tem a capacidade para fazer a razão prevalecer sobre o instinto é, em teoria, mais feliz porque sabe se defender e sofrer menos. Hoje comprovo que por vezes, o instinto deve prevalecer sobre a razão...

- “Cuida os cachorros que eles podem te morder...” – Alertou-me um amigo que, junto de mim, esperava dentro do carro para que o dono da casa os trancasse em sua garagem.
Os cachorros latiam de maneira raivosa, mostravam os dentes, rosnavam, corriam de um lado para outro do pátio. De toda e qualquer maneira tentavam nos afugentar e defender o seu território, nos entendendo como invasores.
Desci do carro com um pouco de cuidado por conta do aviso, apesar de adorar cachorros.
Momentos após, já na lida de carvão-fogo-cerveja-carne, em uma porta entreaberta ao meu lado, um dos cachorros enfiou-se pela fresta com olhar tímido e terno, como se quisesse saber se realmente eu era uma ameaça aos seus domínios. Coloquei em prática o que aprendi com pessoas que entendem de comportamento canino, e mostrei minha mão limpa na altura de seu focinho, para que o mesmo pudesse farejá-la e de sua maneira instintiva, perceber que nela não havia nada que pudesse atacá-lo. A partir daquele momento, o tal cachorro que na verdade era uma cadela, me deu sua total confiança e a cada chamado meu, vinha me fazer companhia acatando meus carinhos. No final da noite dava pra ver a felicidade estampada nos seus olhos quase brancos.
Esta era a Mel, uma cadela de rua que fora adotada pelo dono da casa, e como tal, tinha em sua personalidade traços de timidez e desconfiança muito fortes. O meu ato de mostrá-la que não estava ali para lhe ameaçar foi determinante para que o nosso relacionamento, naquele momento, fosse pacífico o suficiente para garantir segurança, carinho e respeito mútuo no próximo encontro.
Sempre me disseram que cão que ladra, não morde. Nunca havia acreditado nisto, até porque se compararmos com alguns comportamentos humanos...
Existem certas mulheres que, calejadas talvez por motivos que só o passado explica, tal qual um cão, demonstram prévia agressividade para afugentar quem por ventura possa se interessar por elas, mesmo sem conhecer a pessoa ainda. Atacam o que não tem que atacar, falam o que não precisam falar, brincam com o que não devem brincar e tentam nos humilhar de maneira velada, para que nós, possíveis pretendentes, desistamos da tentativa. Se formos persistentes e resolvermos enfrentar, levando o relacionamento adiante, as suas pretensões mais rasas são desde logo, deixar claro que todo e qualquer desvio de conduta futuro será pago com mordidas nos calcanhares.
Mas o que há de tão frágil dentro destes muros e destas cercas de arame farpado para justificar tal atitude?
Arrisco-me a dizer que é a garantia de que assim nós homens, que “somos todos iguais” (que raiva que me dá desta sentença) não lhes causemos nenhum ferimento como os que em outras épocas, foram causados por indivíduos de nosso mesmo gênero e espécie.
Ladram previamente para mostrar que podem machucar. Depois uivam por conta da solidão.

Embretados, nós temos três alternativas:
- Acreditamos que aqueles caninos grandes daquela que rosna alto realmente podem nos morder a jugular, e nos afastamos;
- Tentamos dar a cara à tapa, e insistimos iniciando um relacionamento já fadado ao fim com alguém que exigirá dar aprovação para cada respiração nossa, ou;
- Entendemos que tal qual fiz com a Mel, sem querer comparar as mulheres com nossos amigos caninos, é necessário tentar mostrar que não temos armas em punho, para que talvez ela, se abaixar as barreiras, possa dar-nos o voto de confiança necessário e nos proporcionar um relacionamento pacífico.

Sinceramente, ter de ficar provando idoneidade e caráter cansa. Mas ou se faz isto, ou se desiste de quem se quer logo no primeiro contato. É difícil ter de se arriscar a tomar mordida mesmo não oferecendo ameaça alguma (a ameaça está dentro da cabeça do ameaçado). De uma coisa eu tenho certeza: não quero mais me relacionar com pessoas que deixam previamente claro que terei de travar uma guerra fria com elas no futuro. Por mais que se insista, sinceramente, não há como ter condições de se levar adiante um relacionamento assim. Nestas horas concordo com vários que me escrevem, reclamando que querem alguém que não se precise comprar focinheira, alguém que não seja agressivo por conta do passado que em nada tem a ver com o atual relacionamento.
Hoje em dia, quando recordo dos problemas que tive com pessoas assim, sinto um misto de raiva daquelas “mulheres pit-bulls”, e constato que infelizmente não consegui, nem por alguns minutos, amá-las.

Simplesmente é impossível entregar sentimentos para alguém que só te mostra os dentes e que a cada segundo, oferece o perigo de te morder a batata da perna. Ninguém ama 100% nestas condições, e convenhamos, todos sabem o quanto é bom amar incondicionalmente alguém além de nós mesmos...

A Mel não vai latir pra mim da próxima vez. Isto porque ela, no seu instinto, deu o braço a torcer e me deixou provar que eu nunca vou feri-la.

Arriscou e ganhou meu carinho e respeito incondicional. Tudo aquilo que quero entregar sem receio algum em um relacionamento com alguma humana...

domingo, 13 de setembro de 2009

Novamente... proposital.

No último artigo, escrevi sobre o quanto bom é estar na fase inicial de um possível relacionamento. Hoje, de maneira planejada previamente ao concebimento daquele texto, vou propositalmente me contradizer.
Em uma análise direta, para onde voltarmos as nossas atenções perceberemos que sempre há o céu e o inferno, o bem e o mal, o açúcar e o sal, o mocinho e o vilão. No caso do assunto tratado, não há de ser diferente.
Proporcional ao estado de suspensão, o lado negro da força também é forte e vigoroso, proporcionando momentos de quase descontrole emocional por conta da insegurança que agora traduzo de maneira literal e específica: o medo de não saber os efeitos do que se faz, do que se fala, do que se sente e também do que se está representando para a outra pessoa. Sem falar no fato de que na maioria das vezes, não se sabe ao certo se a pessoa se relaciona atualmente com outras ou não, se há concorrência ativa ou não.
No texto passado citei também que todo o caminho percorrido neste período é planejado, apesar de ser ele completamente sem rumo. Contrariedade óbvia e proposital. Como seria um caminho planejado e sem rumo? Possível?
Sim, é. E a resposta é ao mesmo tempo super simples e super clichê: é aquele que todos sabem como será e o que fazer para percorrê-lo, mas quase nunca sabem onde vai dar. Podemos agradar a pessoa ou não, atrai-lá ou não, chamar a sua atenção ou não. De maneira mais direta, é o percorrer do trajeto da conquista e, o quanto este terá sucesso, que determina se o rumo ao objetivo desejado (conquistar) será tomado. Até lá as coisas correm quase sem navegação.
Contudo, o nível do quanto estamos perdidos/iludidos por vezes se mostra de maneira traiçoeira e cômica ao mesmo tempo. Muitas vezes percorremos o tal trajeto gozando de todas as felicidades das quais tratei, empolgados com a futura parceira e tendo a certeza absoluta de que além de estarmos apaixonados, despertamos uma paixão avassaladora nela também. Finalmente encontramos a nossa alma gêmea...
... até o primeiro beijo ou a primeira noite acontecer. Derrepente e como por um decreto, o encanto vai embora muito mais rápido do que chegou, e a gente fica torcendo para se der sorte, nunca mais encontrar a pessoa. Digamos que todas aquelas expectativas que tínhamos acabam por conta da completa falta de química, aspecto este que é jogado em nossa cara com a sensibilidade de um rinoceronte numa loja de cristais.
Criarmos expectativas e nos frustramos. Traçamos planos, mudamos as atitudes, abrimos mão de certas coisas e, bem no momento onde o início de toda uma nova vida de felicidades e satisfações deveria acontecer, o que acontece é apenas uma enorme decepção.

- // -

O balanço final do que vale a pena ser/fazer quanto as tuas futuras conquistas amorosas fica a teu cargo, querido leitor, até porque quem é responsável pela tua felicidade és tu mesmo, e não o meu texto. Não espere que eu vá oferecer respostas as tuas inquietudes, solucionar as dúvidas que tens intimamente sobre ser ou não ser romântico na hora da conquista. Bem da verdade, temos de ser nós mesmos e pronto.
Temos por obrigação saber o que é melhor pra gente e, na boa, eu sei o que é melhor pra mim. Tanto que faço tudo aquilo que tu leste no texto passado. Se vou me dar mal ou não, se vai rolar química ou não, é um risco que tenho de correr. Sempre tentei ser o mais fiel possível ao que penso e ao que sou quando conheço uma nova menina, ou seja, gosto de ser romântico sim, e não tenho vergonha disto.
Romântico sim, burro não. Existem certas coisas que aprendemos com o tempo e com as outras conquistas amorosas do passado, mesmo que muitas vezes estas mesmas coisas nos façam contrariar o que se sente ou o que se acha certo.
Se a pessoa não se encanta por flores, mas se encanta com alguém que não lhe dá muita atenção, com o foco em alcançar o objetivo de conquistá-la, será isto o que ela terá, mesmo sem perceber que...

...novamente tudo é proposital da minha parte.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Com o freio de mão puxado... de propósito.

Tempos atrás, um amigo me apresentou uma “conhecida”. Sabendo que sou um pouco avesso a este tipo de arranjo, ele preocupou-se previamente sobre qual seria minha reação quanto ao momento que o fato acontecesse, mas resolveu arriscar.
Durante alguma balada que não lembro qual, aproximaram-se ele, a atual namorada e a menina, que nada mais era do que uma amiga do casal que havia externado interesse por mim em outras ocasiões (tenho de admitir, ela era linda... morena de sorriso fácil e pernas longas). Ele tocou em meu ombro, me apresentou a tal e ficaram esperando, ambos os três, por uma reação que talvez não fosse tão boa. Abri um super e inesperado sorriso, e a partir daquele momento, tratei-a como trataria a melhor amiga, com a maior gentileza e educação possível. Conversamos bastante, e tudo acabou por ali no final da noite, com uma saudação educada e carinhosa de final de festa, uma adicionada no MSN e só. Nem beijinho rolou, e a coitada foi embora se achando um lixo no mínimo... ou que eu era gay. Mas paciência.
O tal amigo não entendeu o que eu tinha feito. Segundo ele, momentos após a apresentação, ele primeiro achou que eu fosse virar as costas para a menina (ela também achava), em um segundo momento, vendo que tudo deu certo, pensou que eu agiria como qualquer homem age, pisando afoitamente no acelerador e não demorando muito para “alcançar a meta”, por assim dizer. Esqueceu-se de um detalhe crucial, que particularmente rege todo e qualquer tipo de relacionamento meu.

Tem certas coisas que temos de aprender a dar valor.

Não sei se é pela passagem dos anos, se pelas gerações que vão sendo superadas (percebi nos últimos tempos que a minha já não é mais a atual), se pelas práticas amorosas que entraram em desuso, se é pelos relacionamentos que assustadoramente evoluem para algo cada vez mais informal... não sei. Só sei que vejo uma escassez de algo que hoje em dia, infelizmente, é raro... e respeitando a lei da oferta e da demanda, é tão bom quanto.
Eu já havia escrito sobre isto por aqui, mas quando conheço alguém que realmente me interessa, as vontades que tenho não são as puramente instintivas, aquelas que são esperadas de todo e qualquer “macho alfa”. Juro que a primeira coisa que me vem à cabeça é conhecer melhor aquela pessoa, conversar bastante, saber do que ela é capaz, e principalmente, qual é a sua capacidade de comprometimento, não só referente a um possível relacionamento, mas sim porque acredito que o que nos faz melhores pessoas é justamente isto, a nossa capacidade de comprometimento.
Sim, eu dou valor a outras coisas, e para isto, me utilizo de certas ferramentas que, tal qual as antigas Olivetti, praticamente ninguém mais utiliza.
Costumo (e costumam) dizer que sou um homem “a moda antiga”, ou seja, aquele que, de acordo com toda a rotulagem padrão, puxa a cadeira, abre a porta, presenteia com flores, adora programas românticos... o que ninguém se dá conta é que de maneira quase única pessoas como eu passam e praticamente obrigam quem nos relaciona a passar por fases ou sentimentos que ninguém mais tem tempo ou até paciência para sentir. E o melhor de tudo: fazemos isto curtindo e de maneira totalmente... proposital.
Sou lerdo quando me interesso por alguém. Mas sou lerdo propositalmente. Vou contra a maré e, torturando talvez um pouco a garota, puxo um pouco o freio de mão para tentar curtir ao máximo esta fase inicial de suspensão e encantamento. Que me atire a primeira pedra quem acha que olhares mútuos e brilhantes junto com sorrisos patetas não são bons, e aqui vai um puxão de orelha para aqueles que mentirosamente me responderam que não: está na hora de esquecer o que houve e te permitires a ter este tipo de felicidade. O amor verdadeiro e duradouro existe sim, e é justamente em meio às tentativas que acabam com os burros na água que o encontramos.
Tudo acontece planejadamente, mas ao mesmo tempo sem rumo algum. Temos de respeitar as fases e aprender a amá-las tanto quanto a pessoa que nos envolve.

O primeiro beijo sempre demora um pouco a acontecer, até porque acredito que o que vem fácil, vai fácil. Gosto da patetice que dá após o desligar de um daqueles telefonemas infinitos e que despertam saudades logo após o primeiro minuto. Fico sim, e com todo prazer, com cara de besta quando recebo uma mensagem de texto inesperada daquela pessoa. Gosto do frio na barriga que um encontro inesperado com a pessoa alvo proporciona. Adoro a sensação de insegurança ligada a vários aspectos no momento da conquista, e principalmente...

... adoro também a certeza de que estou certo em ser assim.