segunda-feira, 18 de julho de 2011

A obra do amor


Oh queridos românticos! Como é difícil e árdua a tarefa de carregar tamanho fardo pesado sobre os ombros!

Somente nós, os que suspiram e anseiam por uma boa e especial paixão, compreendemos o quão difícil é ser assim, um defensor dos relacionamentos carinhosos e dos olhos que brilham.

Não é nossa culpa, nascemos com uma benção. Num mundo onde as telenovelas pregam o desapego e a traição em horário nobre, somos apaixonados pela sensação de apaixonar-se. Nos alimentamos com os carinhos sem fim, com o perfume doce da amada no travesseiro, com abraços de orelha fria, com gemidos de cafuné e com o aconchego dos seios. Nos mantemos vivos com a mensagem de texto do antes de dormir, de se sentir prioritário, da saudade que se sente após 30 minutos da despedida, da fala arrastada de criança e das mãos bobas escondidas. Vivemos do beijo longo e do selinho, da contraprestação atendida das nossas atenções, do fogo entre quatro paredes, do quase chorar com a beleza e valor dos momentos de declaração e da janta feita carinhosamente para nos esperar.

Sentimos falta do orgulho do status de não solteiro, da beleza de querer transformar a vida do outro em algo mais especial, dos planos de casamento ao ar livre, do nome dos filhos e do golden retriever. Queremos cada vez mais pipocas e filmes, lareiras e vinhos, lábios mordidos e olhares de desejo. Adoramos os cabelos enrolados da nuca, a pele macia de hidratante, a sensação de peito preenchido e a vontade crescente de estar junto fazendo qualquer pequena coisa.

Nós sentimos falta do que é bom, daquele suspiro profundo buscando ar quando parece que este ar não vem se a pessoa não está por perto. Sentimos falta da proximidade, da intimidade cotidiana e sexual, da atenção e claro, do porto seguro que está ali sendo oferecido de bom grado.

Só nós sabemos, meus queridos, o quanto dói relacionar-se com alguém que não tem a vontade necessária para ser o alguém que nos causa furor, que não nos dê causa para os esforços diários, que não queira sentir o mesmo que sentimos. O quanto dói olhar e não ser olhado, querer e não se querido, tratar e não se tratado, faltar e nunca ser percebido faltado...

... o fogo apaga, o frio chega e se instala, o vento aparece levando todas as vontades e alegrias. As cores e os cheiros da rotina mudam. Instintivamente passamos a buscar soluções.

É em momentos assim que a concorrência aparece, mas não a concorrência do ditado popular, e sim aquela que existe normalmente sem ser notada, e que é composta por dois sentimentos que não deveriam ser antagônicos, mas sim protagonistas de uma mesma história: o amor próprio e o amor por outra pessoa. Se caminharem juntos, perfeito. Se concorrerem entre si como numa queda de braço, a experiência da vida diz que devemos sempre escolher pelo certo, fazer o correto.

Priorizar infinitamente o primeiro.

Com as vontades vencidas retornamos a primeira estaca da vida somada a outra, mas em contrapartida retornamos também a nos preocupar exclusivamente com a construção da nossa própria vida (o que é muito bom)...

... esperando que a qualquer hora, em qualquer lugar e de qualquer modo, uma outra obra conjugal se inicie com alguém que também goste de levantar tais paredes...