quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Olho por olho, dente por dente, coração por coração...


Há tempos venho procurando um motivo, um assunto, uma inspiraçãozinha qualquer para voltar a escrever. Nunca fui um escritor profissional, daqueles que escolhe assunto e momento certo para colocar as ideias no papel, digamos que os assuntos sempre vieram por si mesmos, e os momentos em que escrevia eram os mais variados. Apropriados e inapropriados.
Hoje não foi diferente. Estou neste exato momento em plena jornada de trabalho, escrevendo sobre um assunto que me veio à cabeça hoje pela manhã, após uma noite de pouco sono de qualidade. Enquanto estava tentando dormir, lembrei-me da famigerada lei de talião (se escreve com letra minúscula mesmo, pois não é nome próprio), aquela que todos conhecem pela máxima “olho por olho, dente por dente”. Trocando em miúdos, consistia basicamente num sistema onde crime e pena eram equiparados, sendo assim, a justiça era feita impondo ao criminoso o pagamento na exata moeda do dano que causava. Se matasse, morria, se ferisse, era ferido. A regra era que a punição deveria ser exatamente igual ao crime.

Analisando friamente, cheguei a dois questionamentos:

Será que tal lei hoje ainda é aplicada? E se for, onde, como e quando a mesma entra em prática?

A primeira coisa que me veio à cabeça foram os misteriosos caminhos do amor. Não me pergunte por que e como (coisa de insone...) peguei-me indagando o seguinte: onde a reciprocidade poderia ser mais bem aplicada do que em um relacionamento amoroso? Onde o ato e a consequência (misturando aqui já a lei de talião com o principio da proporcionalidade da causa e do efeito) deveriam ser mais equiparados, mais isonômicos, mais igualitários? (Um anexo: Importante aqui frisar que não falo sobre o cometimento de atos errados e suas respectivas consequências, falo sim sobre a troca de amor, de carinho, de sentimento, e o respeito à reciprocidade nestes momentos).

Quem já leu alguns textos específicos deste blog sabe que sou um homem carinhoso. Tenho literalmente muito carinho a dar, e sendo um homem também leal, costumo ter em estoque muito mais carinho do que uma pessoa só necessita. A consequência disto é que, para não exigir demais da pessoa que está comigo, e também para não trair meus valores e princípios de fidelidade, acabo espalhando este carinho por vários entes permitidos: família, namorada, filhos, cachorros, amigos, objetos pessoais, etc. Todos são contemplados com muitos beijos, abraços, palavras carinhosas e atenção. Problema então é fazer o link com a lei em voga deste texto:
Se sou muito carinhoso, por óbvio, gosto de receber muito carinho e atenção também. Olho por olho, dente por dente, coração por coração. E admito: peco por ser exigente neste sentido. Todos aqueles que recebem meu carinho em abundância, acabam por receber também um carnê de pagamento: dar-me em troca um nível elevado de atenção. Exigência injusta... não conheço uma viva alma que tenha a mesma aptidão para encher alguém de afagos...
 
Cometo o crime de ser carinhoso demais, e crio a expectativa de receber a pena na mesma moeda. Alguns dirão que ser carinhoso demais não é crime, outros dirão que gerar tais expectativas é que seria o real crime... eu digo que até hoje, paguei penas fortíssimas por amar demais, acreditando que ser assim não seria crime algum...

... mas as noites insones costumam ter justas penas: penas em forma de questionamentos... e me dou o direito de me questionar sempre quando acho cabível, independente se o ato de se questionar é questionável para alguns, e aceitável para outros. Para mim é normal, e mais... é salutar.

Indago-me, portanto, qual é a solução para tais infrações penais: Amar menos? Aceitar ser menos amado? Amar e esperar menos amor? Ou simplesmente... continuar amando exageradamente confiando  que o amor é algo que não se deve ter medidas?

Amo-me como nunca me amei antes. E alguns dirão que é isto que importa. Eu mandarei literalmente essa filosofia barata se fuder e pedirei aos donos dela prestarem atenção no que estou escrevendo: não é o meu amor próprio que estou colocando em júri popular, mas sim a consequência disto...

 ... se estou certo em acarinhar exageradamente e esperar o mesmo carinho em troca...