Há tempos venho procurando um motivo, um assunto, uma inspiraçãozinha
qualquer para voltar a escrever. Nunca fui um escritor profissional, daqueles
que escolhe assunto e momento certo para colocar as ideias no papel, digamos
que os assuntos sempre vieram por si mesmos, e os momentos em que escrevia eram
os mais variados. Apropriados e inapropriados.
Hoje não foi diferente. Estou neste exato momento em plena jornada de
trabalho, escrevendo sobre um assunto que me veio à cabeça hoje pela manhã,
após uma noite de pouco sono de qualidade. Enquanto estava tentando dormir, lembrei-me
da famigerada lei de talião (se
escreve com letra minúscula mesmo, pois não é nome próprio), aquela que todos
conhecem pela máxima “olho por olho, dente por dente”. Trocando em miúdos, consistia
basicamente num sistema onde crime e pena eram equiparados, sendo assim, a
justiça era feita impondo ao criminoso o pagamento na exata moeda do dano que
causava. Se matasse, morria, se ferisse, era ferido. A regra era que a punição
deveria ser exatamente igual ao crime.
Analisando friamente, cheguei a
dois questionamentos:
Será que tal lei hoje ainda é aplicada? E se for, onde, como e quando a
mesma entra em prática?
A primeira coisa que me veio à cabeça foram os misteriosos caminhos do
amor. Não me pergunte por que e como (coisa de insone...) peguei-me indagando o
seguinte: onde a reciprocidade poderia ser mais bem aplicada do que em um
relacionamento amoroso? Onde o ato e a consequência (misturando aqui já a lei
de talião com o principio da proporcionalidade da causa e do efeito) deveriam
ser mais equiparados, mais isonômicos, mais igualitários? (Um anexo: Importante
aqui frisar que não falo sobre o cometimento de atos errados e suas respectivas
consequências, falo sim sobre a troca de amor, de carinho, de sentimento, e o
respeito à reciprocidade nestes momentos).
Quem já leu alguns textos específicos deste blog sabe que sou um homem
carinhoso. Tenho literalmente muito carinho a dar, e sendo um homem também leal,
costumo ter em estoque muito mais carinho do que uma pessoa só necessita. A consequência
disto é que, para não exigir demais da pessoa que está comigo, e também para
não trair meus valores e princípios de fidelidade, acabo espalhando este
carinho por vários entes permitidos: família, namorada, filhos, cachorros,
amigos, objetos pessoais, etc. Todos são contemplados com muitos beijos,
abraços, palavras carinhosas e atenção. Problema então é fazer o link com a lei
em voga deste texto:
Se sou muito carinhoso, por óbvio, gosto de receber muito carinho e
atenção também. Olho por olho, dente por dente, coração por coração. E admito:
peco por ser exigente neste sentido. Todos aqueles que recebem meu carinho em
abundância, acabam por receber também um carnê de pagamento: dar-me em troca um
nível elevado de atenção. Exigência injusta... não conheço uma viva alma que
tenha a mesma aptidão para encher alguém de afagos...
Cometo o crime de ser carinhoso demais, e crio a expectativa de receber
a pena na mesma moeda. Alguns dirão que ser carinhoso demais não é crime,
outros dirão que gerar tais expectativas é que seria o real crime... eu digo
que até hoje, paguei penas fortíssimas por amar demais, acreditando que ser
assim não seria crime algum...
... mas as noites insones costumam ter justas penas: penas em forma de questionamentos... e me dou o direito de me questionar sempre quando acho cabível, independente se o ato de se questionar é questionável para alguns, e aceitável para outros. Para mim é normal, e mais... é salutar.
Indago-me, portanto, qual é a solução para tais infrações penais: Amar
menos? Aceitar ser menos amado? Amar e esperar menos amor? Ou simplesmente...
continuar amando exageradamente confiando
que o amor é algo que não se deve ter medidas?
Amo-me como nunca me amei antes. E alguns dirão que é isto que importa.
Eu mandarei literalmente essa filosofia barata se fuder e pedirei aos donos
dela prestarem atenção no que estou escrevendo: não é o meu amor próprio que
estou colocando em júri popular, mas sim a consequência disto...