sábado, 22 de outubro de 2011

Traição

Um dos assuntos mais abordados por pessoas que comigo debatem sobre meus textos é a traição. Relato aqui os dilemas e as perguntas que são sempre as mesmas, apesar das situações serem sempre diferentes: O que é traição? Levando em conta as convenções sociais de hoje, podemos trair? Devemos ou não perdoar uma traição? E afinal, qual é a receita básica para identificarmos previamente um(a) traidor(a) em potencial?

Como diria Jack o estripador, vamos por partes.

Segundo o Aurélio, o vocábulo traição é a simples “infidelidade no amor”. Sinceramente? To pouco cagando para esta definição. Para mim, quem define o que é ou não traição somos nós mesmos. Traduzo através das diferenças: para uns, uma pequena olhada ou um sorriso já são traições consideradas, para outros, ver o(a) cônjuge transando apaixonadamente ao vivo com outra pessoa em sua própria cama é tranqüilo e normal. Motivo de prazer até.

Quem definirá isto são os nossos limites, os nossos próprios valores extremamente particulares. Não sou eu portanto, quem direi a ti o que deves considerar chifre ou não. Aprenda a auto-respeitar as tuas próprias definições e a não se importar com o que os outros acham, que serás feliz com certeza. Direto, curto, reto e simples assim.

A resposta para a segunda pergunta está intimamente ligada com a anterior. Podemos ou não trair afinal? Depende. Depende do que tu e a tua parceira consideram como traição. O que interessa nisto é realmente nunca, mas nunca mesmo, trair os sentimentos e a confiança da outra pessoa e, se tens o hábito de seres infiel, tomares como regra o não se importar em ser traído. Regras e pesos iguais na balança sempre. Nada de sorrir satisfeito quando fores infiel e chorar desiludido quando fores traído.

Se não queres ser corno, não corneie. Princípio básico.

Agora a resposta é minha pessoal para a terceira pergunta. Eu particularmente não admito traição, portanto, se sou traído o relacionamento automaticamente não sobrevive para contar história. Não compreendo a revanche como remédio e não interessa o tamanho do vínculo ou do sentimento, não admito a condição e explico o porquê: a traição ao meu entender demonstra o total desrespeito e desconsideração com a vida conjugal e em comum. Para mim, quando duas pessoas se juntam é para justamente juntarem tudo, desde o sexo até as tristezas e alegrias, quando um terceiro entra na jogada, tal situação passa a não existir mais mesmo que momentaneamente. Demonstração clara de que mesmo existindo amor e o caralho a quatro, naquela hora ali o compromisso e o casal na definição clássica deixaram de existir. É fim e ponto final. Um é pouco, dois é bom e três... três é sempre demais para mim.

A desilusão sempre acontece depois de uma traição descoberta, e como o próprio termo diz, a ilusão de um relacionamento perfeito, uma pessoa perfeita, vai embora. Como podemos então identificar previamente quem provável irá nos trair?

É muito mais simples do que se imagina. Basta olhar e analisar bem a família desta pessoa. Se os seus pais, apesar de casados, tiverem um histórico de infidelidades e desrespeitos, já contem o chifre como certo. É batata, de todos os traidores que conheci, 100% deles herdaram esta característica dos seus próprios pais através da criação, e cresceram infelizmente achando inconscientemente que apesar dos arranca-rabos decorrentes, é normal e comum comer ou dar para alguém pela simples oportunidade. Foda-se os escrúpulos e besta é de quem não aproveita.

Cresci tendo como parâmetro o contrário. Meus pais até hoje, após quase meio século juntos, são apaixonadíssimos um pelo outro, e fazem tudo, absolutamente tudo juntos. Ontem, hoje e amanhã será assim. Não há espaço nem de tempo para a infidelidade. Como conseqüência, eu e meus irmãos quando estamos apaixonados somos simplesmente incapazes de trair. A nossa criação nos diz que o relacionamento, o namoro, transcende e ultrapassa a linha do apenas curtir juntos. Como dizem por ai, “a coisa é séria”, séria a ponto do respeito e da vontade de satisfazer e estar satisfeito serem de tão grande valia quanto o amor.

Talvez seja exatamente este o ponto. Se as pessoas se preocupassem mais com a satisfação verdadeira e duradoura, tanto sua como do outro, e se estes agrados fossem mútuos e equiparados, talvez não sobrasse espaço para buscar fora o que não se ganha dentro. Não haveria insatisfação racional e...

... talvez a fidelidade indefectível como a dos meus pais, não fosse tão rara nos dias de hoje...

3 comentários:

Lariza disse...

Rafa, se me permite fazer um comentário a respeito disso, acho que a questão da traição também está ligada à maturidade.
Quando falo em maturidade, não me refiro apenas à maturidade de um só dos componentes do casal. Refiro-me à maturidade do casal enquanto um só ente.
Ao longo da minha vida, percebi que os casais maduros (independentemente da idade) são fiéis e têm relacionamentos infinitamente mais saudáveis e proveitosos do que os casais imaturos.
A maturidade está intimamente ligada ao auto-conhecimento e à vontade de conhecer o outro. E quem conhece a si mesmo e busca conhecer o outro, acaba descobrindo o que quer.
A partir disso, sabendo o que você e o outro querem, quem são vocês você e a que vieram ao mundo, você tem condições de transmitir para o(a) companheiro(a) a tal da segurança. Reparei que as pessoas que são seguras em relação aos sentimentos do outro e seguras em relação aos próprios sentimentos não traem, ainda que as circunstâncias sejam muito favoráveis para que isso aconteça. Aí, estamos novamente na questão de pensar na "satisfação verdadeira e duradoura" que você referiu no texto. Só se pensa nisso quando se sabe o que quer. Muitas pessoas não querem isso hoje em dia porque simplesmente não sabem o que querem. Aliás, não sabem nem quem são.

Lariza disse...

Ah, sim. E teu texto está ótimo! Não entendi por que você não gostou...! Hehehe.

Sabrina disse...

Nossa, Rafa! O texto está ótimo e a Lariza completou de forma perfeita. Acredito plenamente que a fidelidade está vinculada ao relacionamento maduro. Algumas pessoas são infiéis pq vivem um relacionamento imaturo e agem como crianças que acreditam que fazendo escondido está tudo certo.... enfim, acho que cada um tem o seu tempo e alguns levam uma vida inteira sem amadurecer!