terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Distorções automáticas II

Ontem escrevi sobre algumas distorções automáticas de pensamento, hoje eu continuarei a escrever sobre isto, mas tentando identificar e exemplificar algumas outras muito corriqueiras. Escreverei da mesma forma que ontem, ou seja, de maneira a exemplificar cada uma delas, em separado, mas dentro de um contexto não muito claro. Continuo com a minha opinião aquela: que atire a primeira pedra quem nunca pensou das maneiras que vou descrever...
Começarei falando sobre a desqualificação do positivo, que nada mais é do que valorizar apenas os fracassos, desvalorizando em contrapartida qualquer tipo de sucesso, seja algo extraordinário ou não. Desta maneira sempre vamos nos sentir inadequados, insatisfeitos, depressivos ou não recompensados. Exemplos? Ai está: “Eu tive total êxito no meu serviço de hoje, mas não quer dizer nada, tive apenas sorte”, “meu chefe disse que meu relatório ficou ótimo, que não poderia estar melhor, mas na verdade qualquer um poderia ter feito, e ele nem estava tão bom assim...”.
A argumentação emocional que fazemos por vezes é outra distorção grave, pois se pode dizer que é uma tendência a tratar os nossos sentimentos como se fossem fatos, ou algo definitivo. Desta maneira, as auto-impressões, que claro não são nem um pouco fundamentadas em fatos concretos, passam a ser utilizadas como evidências que confirmam crenças erradas sobre si mesmo. É o velho “eu sinto, portanto deve ser verdadeiro ou assim mesmo”, ou “eu sei que faço muitas coisas de maneira correta, mas eu ainda me sinto um fracasso”, “eu me sinto triste, devo ter depressão permanente”.
Imagine a seguinte situação: Uma jovem gordinha de 28 anos, que está de dieta desde os 12, não resiste e come uma colher de sorvete, ela diria: “Eu quebrei minha dieta completamente, vou comer o pote todo, não faz diferença alguma”. Estes são os pensamentos dicotômicos, os chamados “tudo ou nada”, a pessoa sempre pensa em termos extremos, absolutos, sem meio nenhum meio termo. Exemplos: “Se não for perfeito, sou um fracasso”, “se ela me fez cara feia então ela não gosta nem um pouco de mim”, “se meu pai não fez tal coisa, ele é um imprestável total”, “o Grêmio perdeu na final, portanto foi um fracasso total no campeonato todo”.
Vai dizer também que tu nunca te pegaste tendo certeza do que os outros estão pensando sobre ti, sem ter a mínima confirmação, do tipo “ela acha que eu sou feio”, “meu pai não gosta de mim”, “minha mãe me acha um inútil”, pensamos assim sem nem ao menos termos evidência que confirme qualquer destas sentenças, estas são as chamadas leituras mentais. Tu achas que sabe o que os outros estão pensando, falhando assim ao considerar qualquer outras das possibilidades mais prováveis.
E uma das mais comuns:
Digamos que tu viajas para um lugar qualquer, e neste local acontece algum imprevisto repentino e desagradável, tu pensas logo assim: “Se eu não tivesse vindo pra cá, nada disso teria acontecido”. É a clássica questionalização, é focar o evento naquilo que poderia ter sido e não foi. Fazendo isto, a gente se culpa pelas escolhas que fez e questiona-se por tabela, nas escolhas futuras. Exemplos: “Se eu tivesse aceitado aquele emprego, estaria melhor agora”, “se não tivesse desrespeitado meu namorado, ainda estaria com ele hoje”, “se tivesse levado aquela pessoa mais a sério, hoje seria mais feliz”.

Enfim, o que interessa realmente é tentar sempre identificar estas distorções, lembrar de botá-las em julgamento sempre que acontecerem e principalmente...

Evitá-las e tratar de tomar medidas para que nunca mais aconteçam...

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