Já comentei por aqui que quem tem a capacidade para fazer a razão prevalecer sobre o instinto é, em teoria, mais feliz porque sabe se defender e sofrer menos. Hoje comprovo que por vezes, o instinto deve prevalecer sobre a razão...
- “Cuida os cachorros que eles podem te morder...” – Alertou-me um amigo que, junto de mim, esperava dentro do carro para que o dono da casa os trancasse em sua garagem.
Os cachorros latiam de maneira raivosa, mostravam os dentes, rosnavam, corriam de um lado para outro do pátio. De toda e qualquer maneira tentavam nos afugentar e defender o seu território, nos entendendo como invasores.
Desci do carro com um pouco de cuidado por conta do aviso, apesar de adorar cachorros.
Momentos após, já na lida de carvão-fogo-cerveja-carne, em uma porta entreaberta ao meu lado, um dos cachorros enfiou-se pela fresta com olhar tímido e terno, como se quisesse saber se realmente eu era uma ameaça aos seus domínios. Coloquei em prática o que aprendi com pessoas que entendem de comportamento canino, e mostrei minha mão limpa na altura de seu focinho, para que o mesmo pudesse farejá-la e de sua maneira instintiva, perceber que nela não havia nada que pudesse atacá-lo. A partir daquele momento, o tal cachorro que na verdade era uma cadela, me deu sua total confiança e a cada chamado meu, vinha me fazer companhia acatando meus carinhos. No final da noite dava pra ver a felicidade estampada nos seus olhos quase brancos.
Esta era a Mel, uma cadela de rua que fora adotada pelo dono da casa, e como tal, tinha em sua personalidade traços de timidez e desconfiança muito fortes. O meu ato de mostrá-la que não estava ali para lhe ameaçar foi determinante para que o nosso relacionamento, naquele momento, fosse pacífico o suficiente para garantir segurança, carinho e respeito mútuo no próximo encontro.
Sempre me disseram que cão que ladra, não morde. Nunca havia acreditado nisto, até porque se compararmos com alguns comportamentos humanos...
Existem certas mulheres que, calejadas talvez por motivos que só o passado explica, tal qual um cão, demonstram prévia agressividade para afugentar quem por ventura possa se interessar por elas, mesmo sem conhecer a pessoa ainda. Atacam o que não tem que atacar, falam o que não precisam falar, brincam com o que não devem brincar e tentam nos humilhar de maneira velada, para que nós, possíveis pretendentes, desistamos da tentativa. Se formos persistentes e resolvermos enfrentar, levando o relacionamento adiante, as suas pretensões mais rasas são desde logo, deixar claro que todo e qualquer desvio de conduta futuro será pago com mordidas nos calcanhares.
Mas o que há de tão frágil dentro destes muros e destas cercas de arame farpado para justificar tal atitude?
Arrisco-me a dizer que é a garantia de que assim nós homens, que “somos todos iguais” (que raiva que me dá desta sentença) não lhes causemos nenhum ferimento como os que em outras épocas, foram causados por indivíduos de nosso mesmo gênero e espécie.
Ladram previamente para mostrar que podem machucar. Depois uivam por conta da solidão.
Embretados, nós temos três alternativas:
- Acreditamos que aqueles caninos grandes daquela que rosna alto realmente podem nos morder a jugular, e nos afastamos;
- Tentamos dar a cara à tapa, e insistimos iniciando um relacionamento já fadado ao fim com alguém que exigirá dar aprovação para cada respiração nossa, ou;
- Entendemos que tal qual fiz com a Mel, sem querer comparar as mulheres com nossos amigos caninos, é necessário tentar mostrar que não temos armas em punho, para que talvez ela, se abaixar as barreiras, possa dar-nos o voto de confiança necessário e nos proporcionar um relacionamento pacífico.
Sinceramente, ter de ficar provando idoneidade e caráter cansa. Mas ou se faz isto, ou se desiste de quem se quer logo no primeiro contato. É difícil ter de se arriscar a tomar mordida mesmo não oferecendo ameaça alguma (a ameaça está dentro da cabeça do ameaçado). De uma coisa eu tenho certeza: não quero mais me relacionar com pessoas que deixam previamente claro que terei de travar uma guerra fria com elas no futuro. Por mais que se insista, sinceramente, não há como ter condições de se levar adiante um relacionamento assim. Nestas horas concordo com vários que me escrevem, reclamando que querem alguém que não se precise comprar focinheira, alguém que não seja agressivo por conta do passado que em nada tem a ver com o atual relacionamento.
Hoje em dia, quando recordo dos problemas que tive com pessoas assim, sinto um misto de raiva daquelas “mulheres pit-bulls”, e constato que infelizmente não consegui, nem por alguns minutos, amá-las.
Simplesmente é impossível entregar sentimentos para alguém que só te mostra os dentes e que a cada segundo, oferece o perigo de te morder a batata da perna. Ninguém ama 100% nestas condições, e convenhamos, todos sabem o quanto é bom amar incondicionalmente alguém além de nós mesmos...
A Mel não vai latir pra mim da próxima vez. Isto porque ela, no seu instinto, deu o braço a torcer e me deixou provar que eu nunca vou feri-la.
Arriscou e ganhou meu carinho e respeito incondicional. Tudo aquilo que quero entregar sem receio algum em um relacionamento com alguma humana...
terça-feira, 15 de setembro de 2009
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6 comentários:
Concordo com o Sr.!
Até porque é muito melhor e menos perigoso ter um cachorro do que certas esposas que existem por ai asuhasuhasuashasuh
ENTREGA PRA MIM! ENTREGA PRA MIM! LINDO VC ÃHM?
Prezado Amigo
Estás, como sempre, com uma opinião correta e segura.
Tenho certeza de que certas mulheres, talvez por relacionamentos anteriores mal sucedidos, talvez por uma certa frieza emocional, julgam necessário um teste de força antes de iniciar um relacionamento, como a canina referida em seu texto fez...
Mas por vezes, este teste passa dos limites de paciência, acarretando numa situação incômoda em que mesmo um homem diferente (romântico) passa a ser aquele másculo detestado pelo sexo oposto.
Sem coincidências com o teu artigo entre mulheres-caninos, a frase se encaixa: "São ossos do ofício..."
Grande Abraço
Cudio! Até nos comentários o piá tá ficando bom... to orgulhoso!
Obrigado pelo carinho, fiel amigo. O sentimento principal, acredito, frente a este tipo de situação, é de injustiça. Não é justo pagarmos préviamente uma penalidade cometida por alguém que não tem nada a ver conosco. É o tal do "nenhum homem presta" que citei no texto...
Afinal, desde quando particularmente dei motivos para passar a não prestar...? Hehehehe...
Abraços!
Olá.
Concordo...
Infelizmente algumas mulheres tem esse hábito de julgar que todos os homens não prestam porque algum dia um lhe fez algum mal.
Mas, as vezes e sem querer, esse instinto canino que nos toma conta é para demonstrar aos nossos amados que nós só queremos cuidar bem deles, tanto quanto um cão faz com o seu dono, rosnamos pra qualquer coisa que possa oferecer perigo!!!
Beijos
Ariadne
Ps.: Seus textos me fazem refletir... muito bom!
Ariadne,
Fico perfeitamente feliz em saber que meu objetivo é alcançado. Ao escrever, desejo que o leitor se identifique, interprete e também reflita sobre os assuntos que levanto.
Quanto às "atitudes caninas", também concordo com você no caso de defender a quem amamos.
Bjos e muito obrigado pelo carinho!
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