quinta-feira, 19 de abril de 2007

A falta de vergonha do Paulo

Gosto de assistir TV de madrugada quando me dá insônia. É algo que faz passar o tempo, e sempre acabo assistindo algo muito interessante, que me faz chegar no serviço comentando.
Ontem por acaso, não foi diferente. Sou curioso pelo universo feminino, então quando não consigo assistir no horário, assisto as reprises na madrugada. O nome do programa é “Saia Justa”, e passa no GNT.
Um dos assuntos em voga era a vergonha. Simples assim. A vergonha. Sem nenhuma firula e rodeio. As apresentadoras disseram as suas experiências próprias e tal, mas o que me chamou atenção foi outra parte.
É claro, sempre há as reportagens de rua, onde as pessoas são questionadas sobre o assunto, e duas pessoas mereceram uma boa risada. A primeira foi de um rapaz que disse se envergonhar apenas em uma situação: quando ele é pego na sinaleira enfiando o dedo no nariz (quem nunca fez isso?). E a outra foi de uma senhora idosa, que disse que estava envergonhada com aquela câmera enfiada na “fuça” dela.
Na minha opinião, a vergonha é uma forma de controle social, e que consiste de estados emocionais e até fisiológicos (quem nunca se envergonhou quando a barriga ronca bem no meio de uma sala cheia de gente em silencio?) é um bando de comportamentos variados, induzidos por situações de desonra, desgraça e condenação. Se tu fores pensar um pouquinho mais adiante, a vergonha é justamente o nosso freio de mão, é o que segura, é o que faz a gente derrapar na curva. Conceituando melhor, a vergonha é como se fosse a emoção que mostra que temos limites, que somos finitos.
No meu caso, o que me incomoda é quando me envergonho a mim próprio. Isto é altamente conectado com a questão das crenças, pois vergonha tem a ver com autocondenação, com algum tipo de autoflagelo. Por exemplo: digamos que tu perdes algo, e esta perda te faz pensar que tu sempre perde, ou seja, que tu és um perdedor. Em um pensamento simplista, tu passas a ter vergonha, pois achas que as pessoas te julgam igualmente como perdedor. Na verdade, isto é apenas uma questão interna de avaliação. O problema é que tem gente que perde até a dignidade depois de uma situação vergonhosa, principalmente quando crianças, que são extremamente vulneráveis à formação de uma identidade de vergonha própria. É a maneira como somos criados as vezes, como somos educados.
Leiam esta definição: “Enquanto a culpa é um sentimento doloroso de remorso e responsabilidade pelas ações que foram tomadas, a vergonha é um sentimento doloroso sobre alguém enquanto pessoa”. Inclusive nós mesmos. Temos vergonha não por algo que fizemos, mas sim por algo que somos, ou demonstramos ser através de alguma atitude.
Penso também que existe vergonha social, ou comunitária. Raciocine: quem nunca teve vergonha do Brasil, por algo que aconteceu que explicitou algum grande defeito nosso? Vergonha do seu time ter perdido de maneira tão feia no final de semana? O Paulo passa por isto sempre. Ele odeia ver o Inter perder. Quando isto acontece, ele chega a esconder dos outros que é colorado. Vê se pode...
Esses dias ele passou por uma situação que quase me fez mijar de tanto rir.
Nas palavras dele:
- “Pia! Pensa em mulher gostosa. Pensa. Agora multiplica por Três! Era ela. Eu tava caminhando na rua agora, e lá vinha ela no sentido contrario... passos firmes, pernas firmes, uma bundinha que vi uma hora que ela parou e se virou... benzadeus!... nunca vi igual...
Ela vinha na minha direção, de óculos escuros, seios fartos apontando para cima, cabelo escuro, ondulado. Pensei logo comigo:
Será que esta mulher daria bola para um reles mortal como eu? Olhei para mim. Estava super mal vestido, barba por fazer, precisava até de um banho. Me senti envergonhado. Então quando ela estava quase cruzando comigo, escorregou e caiu! Plof! Foi de boca no chão”!
- “Ahahahahaha...!”
- “Olha só! Quando ela caiu, caiu de bunda pra cima...e a saia levantou...”
- “Putz”!
- “A calcinha dela era um fio dental vermelho...deu pra ver tudo...me deu até um troço na hora que vi...
O pior que nessa de olhar pra bunda dela nua virada pra cima, ela me perguntou – É bonita? – e eu fiquei sem resposta! Apenas olhando!”
- “ Tu te esqueceu de ajudar ela o animal!”
- “Justamente tchê! Olha a vergonha que passei! Fiquei olhando pra bunda dela e esqueci de ajudar a levantar! Ela se levantou sozinha e foi embora puta da cara!...AHAHAHAHAHAHA!”

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