Ontem vi um casal de namorados discutindo, e enquanto ele argumentava algo desesperadamente, ela o chamou de brega. Cabeça de furacão como sou, estive o dia inteiro pensando no que era “ser brega”, não para ela ou para ele, mas sim para mim.
O termo Brega sempre me significou exagero, até pela gozação com que ele é utilizado. Se bem que na verdade, segundo a sabedoria popular, esse é o aspecto principal de ser brega, ser exagerado.
Tenho um amigo que até hoje usa bermudas laranja fosforescente e mocasins com meia. Usa porque gosta e porque realmente não entende patavina de moda e etiqueta. Considera-se um ignorante no que tange a isto e admite a própria breguice.
No início do meu primeiro curso de graduação, tive uma professora de matemática financeira que era a cara (e o cabelo) do Walter Mercado, usava também os casacos dos ternos azuis do Didi mesclados com as camisas e calças do Agostinho Carrara. Sempre muito carregada na maquiagem, gostava de falar muito alto e seu jeito exagerado de ser era motivo para seguidas gozações e constrangimentos coletivos. Ficava meio óbvio que em questões de moda, estilo, aparência física ou maneira de pensar ela havia parado lá pelo início da década de 80... evidenciando outro aspecto indiscutível de ser brega: estar ultrapassado.
Unimos as três características citadas e temos uma pergunta-problema: Seria realmente uma infelicidade ser ignorante, exagerado e ultrapassado, ou seja, um brega?
Pense na infinidade de vezes que todos nós já fomos bregas no que tange a nossos relacionamentos, por exemplo. Quantas vezes agimos exageradamente apaixonados, fazendo papel de bobos ou de palhaços, seja em momentos de pura e singela homenagem a pessoa que se ama (eu já estive dentro de uma embalagem de presente para uma namorada na adolescência...) ou de desespero total (O Paulo já ligou 172 vezes durante a madrugada para o celular desligado de uma ex...). Ser brega não é só escutar Reginaldo Rossi ou usar meia branca com sapato e terno preto... é exagerar sendo inseguro, anulando-se, desesperando-se, é perder o controle em situações em que ele seria de extrema valia. É deixar com que as emoções tomem conta de maneira exagerada. Ser brega é deixar que outros te humilhem, ou se humilhar e aceitar isto como se natural fosse.
Em se tratando de sofrimento, hoje a jóia da coroa é ser auto-controlado, educado, discreto, seguro e suficiente para si mesmo. Esses tipos de pessoa todos consideram elegantes e de grande postura, seres exemplares da espécie humana que merecem seguidores. Transpiram confiança e fortaleza, e nunca deixarão que outros os humilhem ou os subjuguem. Esses são chiques.
Mas isto não representa a felicidade... ao contrário.
Quem é muito seguro e auto-suficiente não consegue dar valor para a pessoa que esta ao seu lado. Não consegue nem ao menos se apaixonar ou amar alguém. Moral? Vai ficar sozinho. E não me venha com aquela estória de que eles mesmos se bastam... até porque se há um consenso é o de que ninguém consegue viver sem amar.
Voltando aos bregas, eles vem na contramão disto, são aqueles que simplesmente nunca provaram da tal segurança nestes níveis. Pra eles governar pensamentos, emoções, tristezas e amores é algo inatingível e impossível. A sua felicidade depende dos outros, por isto vivem eternamente na estrada entre o sorriso e as lagrimas, o bom e o mau-humor, a alegria e a tristeza, a saúde e a doença, a segurança e o desespero, o amor e o desamor. Do 8 ao 80 rapidinho.
Por óbvio isto também não é a felicidade...
Todos estes bregas são exagerados, ignorantes no controle de suas vidas e ultrapassados nas suas atitudes. É bem verdade que existirão momentos bons, mas existirão momentos péssimos também. Viverão a vida inteira pisando em terrenos desconhecidos, e serão infelizes eternos.
Os outros que são chiques, seguros, ponderados, controlados e donos de seus próprios destinos, não terão momentos péssimos em suas vidas e nunca mais sofrerão de maneira desesperada, até por que nunca deixarão que isto aconteça. Mas existem preços fixados a se pagar: a solidão, o coração gelado, a falta de paixão e a rotina linear. Infelicidade duradoura novamente.
Eu já fui brega e hoje sou chique, mas no estado atual questiono veementemente o que é certo ser...
Você sabe...?
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Gostei muito deste texto. vim aqui fazer uma visita e conhecer teu espaço. Parabens. bjs
Obrigado!
Tu tens livre acesso por aqui também... quero que te sintas em casa da mesma maneira que me disseste...
Como viste... a proposta de meu blog é diferente.
Hoje escrevo melancolias minhas... amanha falo de uma situação humoristica... nostalgias... até escatologias aparecem por vezes... Corro o risco do desagrado no que escrevo, é normal. E aceito isto.
Que bom que gostaste! Visite-me!
Bjos!
Convite aceito. Super obrigado. bjs
Postar um comentário