Convidaram-me para ir a um festival local, patrocinado por uma grande rádio daqui do Sul.
A princípio me interessei. Sempre dei um dedinho para ir a um show, costumo não perder os que são de meu real interesse. Mas confesso que não fazia a mínima idéia de quem iria tocar.
Como sempre faço, fui dar uma olhadinha na lista e nos horários das apresentações, e inevitavelmente constatei que, hoje em dia, como em qualquer festival onde há um palco, este seria imensamente utilizado por no mínimo quatro ou cinco bandas “Emo”.
Sou de outra época, não tenho vergonha em dizer. O final de minha adolescência e o início de minha vida adulta foram povoados por bandas/músicas mais alegres, mais politizadas, mais fortes, mais... maduras. As músicas “deprês” que eu escutava um pouquinho antes, durante a minha pré-adolescencia, eram os autênticos tapas-na-cara que o Renato Russo dava na gente. Irretocáveis por sinal.
Eu decidi não ir ao tal festival. Sabendo do tipo de música que eu iria escutar todos os minutos em que me encontraria por lá. Realmente não faz o meu tipo... até pelo momento de vida em que me encontro.
Mas não é por preconceito não, não me entenda errado. Música assim não faz parte mais da minha sintonia, me faz mal pela carga de depressão que carrega. Entendo que o exigível para o sucesso frente aos adolescentes é justamente ser alguém que sofra, alguém que chore, alguém que sinta dor, e pasmem, isto não vem de hoje. Eu também era assim. Sentia inveja dos meus colegas ou amigos que sofriam mais do que eu, eles me pareciam tão maduros... tão legais... tão interessantes... tão atraentes! O sofrimento para o adolescente vale mais do que uma caçamba de ouro maciço perante seus iguais. É um atestado de maturidade e de superioridade perante um mar de marasmo e tédio que a adolescência compulsoriamente nos trás. É motivo para despertar inveja... pena... carinho. E é este o nicho de mercado que bandas como estas exploram.
Ou realmente vocês acham que eles choram e sofrem tanto assim a ponto de borrar a maquiagem?
Confesso que eu mesmo, quando jovem, inventava pequenas historias de sofrimento pessoal para que as meninas me dessem um pouco mais de atenção... uns afaguinhos de vez em quando. Forcei-me a isto pela vida pacata e sem graça que levava. Eu tinha de ter um diferencial. Eu tinha de ser interessante de alguma maneira.
De lá pra cá as coisas mudaram.
Hoje o sofrimento é real, verdadeiro. Todo o sofrimento que desejamos ter na adolescência torna-se real durante a juventude adulta. E o pior: não nos sentimos preparados. O que mais fazemos agora, na verdade, é passar a imagem de que tudo está tranqüilo, tudo é felicidade, tudo é alegria e somos plenos e satisfeitos. As situações se inverteram. É a vez de a felicidade despertar inveja e atração.
Se há dez anos atrás nos fazíamos de infelizes, hoje nos fazemos de felizes. Se há dez anos atrás nós éramos entediados com a vida feliz e sem problemas que tínhamos... hoje em dia tudo o que nós queremos é voltar no tempo...
... para viver aquela época de maneira diferente do que vivemos. Para curtir a felicidade que tínhamos e odiávamos ter.
Portanto, meninada dos anos dois mil: esqueçam duma vez o sofrimento, aproveitem a sua felicidade... sério mesmo...
Sofrer sem ter pelo que é perder tempo.
Admirar quem transparece isto também o é.
quinta-feira, 14 de maio de 2009
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4 comentários:
Realmente, tens razão!
Já dizia Charles Chaplin...A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios, por isso cante, chore, ria e viva intensamente...
Parabéns pelo blog!
Dani
Dani,
Antes de tudo agradeço pela tua visita, e pelo teu carinho! Fico muito feliz que gostaste do que viste por aqui.
Quanto ao Chaplin... acabeste de contribuir para um tema futuro...
Obrigado,
Rafael
Oi,
Esse texto explica mais ou menos o porque deu esse nome ao seu blog, acertei?
Comentando o seu texto...
Não concorda que Deus nos dá a oportunidade de viver uma única vez?
Por isso, independente de que época ou fase estamos vivendo a oportunidade de sermos felizes é uma só, não é mesmo?!!!
Beijos
Ps.: Seus textos estão cada vez melhores.
Ana Carla Maia
Ana Carla,
Digamos que erraste por pouco, quanto ao nome do blog, ok...?
Deus pode até nos dar a oportunidade de viver uma única vez... mas acredito piamente que ele viva nos dando oportunidades de sermos felizes... nós que não enxergamos ou não aproveitamos (as vezes até de propósito...). As chances Dele são inúmeras...!
Muito obrigado por mais esta tua visita, te espero mais vezes por aqui! E claro, muito obrigado pelo carinho de sempre! Escrevo justamente para que tu, uma leitora, te identifiques...
Bjos e tenhas uma ótima semana!
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