“Os relacionamentos, assim como as vidas em geral, são eternas negociações”. Já disse o meu velho pai.
Subtende-se nesta sentença que quando estamos nos relacionando com alguém, tudo é negociado ou ao menos negociável. Há trocas, escambos, câmbios, barganhas, depreciação e supervalorização. Tudo tem seu valor, tudo tem seu preço.
Mas será que nessas relações há comerciante, cliente ou agente econômico? Será que podemos entender que a menina que nos namora seja uma fornecedora ou uma consumidora? E nós, somos o que?
Decidi contar a história do Paulo.
Paulo era um rapaz muito correto. Vivia a vida para trabalhar, estudar, e crescer, tanto como pessoa como profissionalmente. E desejava dividir este crescimento com alguém, este alguém era sua namorada.
A menina era, segundo as más línguas, “malvada”. Paulo fazia todas as suas vontades, mesmo que isto lhe custasse um esforço absurdo, ou talvez todo o seu soldo mensal. Na cabeça de Paulo, esta serventia toda era de grande valia, pois ele tinha certeza absoluta que o valor dele estava justamente ai. Não se encontrava homem tão dedicado como Paulo em qualquer esquina, nem em qualquer cidade, nem em Jogo do Grêmio com 50 mil gremistas. E além de tudo ele é forte e bonito.
“Santa Alma”, era o seu apelido.
As amigas de sua namorada a invejavam, querendo um dia ter um namorado com o Paulo, pois os seus respectivos namorados eram uns trastes, traidores, desonestos e não dignos de confiança, muitas vezes até bater batiam nelas. Mas Paulo não. Paulo era tudo de bom e mais um pouco. Paulo era prestativo nas horas dos pequenos favores, era confidente nas horas das incertezas, era pai na hora dos conselhos, era banco na hora dos apertos financeiros, era amante de verdade na cama (sabia exatamente o que fazia, muito experiente ele era), além de muitas outras faces de menos importância que Paulo também tinha destreza de desempenhar com maestria e sabedoria.
Tudo leva a crer, para quem fica sabendo desta historia, que Paulo é uma pessoa que tem um valor gigante e tremendo. Engano comum...
“O valor do produto é do tamanho da necessidade do consumidor”, sentença infelizmente verdadeira.
Sua namorada era uma pessoa avoada. Dava valor a pequenas coisas e esquecia do principal. Paulo, após estes dois anos de namoro, acabou por começar a perder o valor que tinha, passou para outra fase, a do declínio de valor no mercado, pelo menos para sua única consumidora, sua namorada. Nem ela sabe ao certo, o porque que o valor do Paulo caiu a quase zero. Talvez seja pelo gosto de sempre, pela rotina cansativa, pela seriedade demonstrada no relacionamento. Não sei, ninguém sabe. A única coisa que sabemos é que ela trocou Paulo por outro namorado, outro produto, que para ela no momento parecia ter um valor muito maior, mesmo não sendo um produto tão prazeroso ou durável assim, um homem-traste igual ao que suas amigas tinham. Não é imaginavel o que esta sofrendo agora.
Paulo depreciou-se. Passou a achar que o seu valor era realmente o valor que sua agora ex-namorada havia demonstrado e etiquetado em sua testa. Esqueceu do que era, do que fazia, e do que realmente valia. Acabou por achar que por que uma consumidora não lhe pagou, ou pelo menos não estabeleceu nem de perto, o seu verdadeiro valor, ninguém mais poderia comprá-lo por preço igual. O seu valor era de uma havaiana de duas cores ou de um maço de cigarros Bill.
Pergunta sem fim esta: Qual é o real valor que temos para as pessoas que estão em nossa volta? (Entende-se aqui alguém em que estamos nos relacionando, seja uma paixão recém despertada, ou aquele amor velho e maduro).
Na minha opinião, quem estabelece o nosso valor somos nós mesmos, mesmo que isto pareça ser uma frase piegas e repetitiva. Nós que estabelecemos qual o nosso preço, seja nosso preço total, ou o preço de nossas ações e sentimentos. Nós somos os únicos que podemos saber e estabelecer o nosso real valor.
“Saber vender o nosso peixe”. That’s the key.
Paulo é um produto de uma raridade incrível hoje em dia, se uma pessoa como ele fosse aproveitada de maneira correta, reservaria uma satisfação duradoura, talvez por uma vida inteira. Não era produto da chepa, não era pão velho, não era bolacha água e sal. Paulo era uma iguaria, uma lagosta, um camarão ao termidor, uma caixa de charutos cubanos acompanhados com um bom Cabernet chileno.
“Deus dá rapadura para quem não tem dentes”. Diz o ditado.
O consumidor que dá o nosso valor não é coerente nem comprometido em estabelecer o preço a ser pago. O preço que a namorada (ex) de Paulo pagava por ele era muito pouco, ela cambiava tudo o que Paulo tinha a oferecer com desrespeito, desconsideração e desdém dignos de uma pessoa cega que não nem imaginava o que estava jogando fora. Ela era uma horrível consumidora, que não sabia o valor do produto que tinha nas mãos. Mas pior que ela era o Paulo, que era um terrível negociador, não sabendo fazer valer o que oferecia.
Muitas vezes, em pequenas situações, somos pegos negociando carinho, atenção, amor, sexo, fidelidade, confiança e companheirismo. Produtos que o dinheiro não pode comprar, todo mundo sabe, mas na minha modesta opinião, somente podem ser trocados com outra pessoa na mesma moeda. Amor por amor, carinho por carinho, sexo por sexo. É a única moeda de troca que pode dar certo. Nunca dá certo trocas que misturem os produtos, como por exemplo, amor por sexo, sexo por atenção, fidelidade por carinho, confiança por respeito.
Esta mais do que na hora, de pessoas como nós, que na verdade apenas querem ser felizes de uma maneira correta com alguém, através da honestidade, sabermos ou estabelecermos o nosso real valor, o nosso real preço, o verdadeiro numero que está na etiqueta que será colocada em nossa embalagem. E além disto, termos consciência de que não adianta tentar vender agasalho para Nordestino, que não dá valor nenhum a isto no inverno de 34 graus da Bahia.
Temos que saber qual é o nosso segmento de mercado, quem pode, deve e se interessa a pagar o valor necessário para estar com a gente, desfrutar dos benefícios que todos nós podemos oferecer. E são muitos. Muitos mesmo.
Lei da oferta e da demanda. Quem estuda alguma disciplina de economia sabe: Quanto mais raro o produto, mais caro ele é.
O consumidor será quem nós escolheremos, e necessitamos de sabedoria para enxergá-los. A sempre alguém que precisa e dá valor ao que nós oferecemos, e há sempre alguém que oferece o que nós precisamos. O alguém certo. O alguém que sabe dar valor.
Como diria o meu velho pai:
“E se o relacionamento é encarado mesmo como negócios, apenas precisamos negociar, comprar, vender e fazer as trocas de maneira correta”.
quarta-feira, 1 de novembro de 2006
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2 comentários:
Texto elucidativo e brilhante.
Teria tido importância incalculável, se de conhecimento público, na época de planos econômicos que rezavam "congelamento" de preços para resolução de problemas da nação. E, lamentavelmente confundidos por "tabelamento".
Parabéns por aula que nos apresenta de maneira facilmente compreensível,
Jurandir Gonçalves de Aquino.
Querido Jurandir,
Muito obrigado antes de tudo, por tuas palavras de carinho. Muito boa e pertinente também a tua contribuição. Mas o mais incrível de tudo é o seguinte:
Através do teu brilhante comentário, fizeste com que eu voltasse a ler um texto que escrevi a aproximadamente 5 anos atras, e que na minha fase de vida hoje se aplica com muita propriedade.
Muito obrigado por lembrar-me de mim mesmo!
Abraços, te espero mais vezes por aqui.
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