Esses dias, durante um dos meus momentos de introspecção cada vez mais freqüentes, resolvi assistir a um “citcom” chamado “Law and order: SVU (Special Victims Unity)”, que passa no Universal Channel. A linha do tal seriado americano segue através de detetives de 35 anos, promotoras lindas de 28, e policiais de 55 perto de se aposentar, todos investigando crimes em conjunto. Mas não é isto que quero comentar sobre o episódio que assisti. O crime em voga era um homicídio doloso motivado pela inveja. Um amigo matou o outro por que sentia inveja do mesmo. Um era o que o outro gostaria de ser, mas infelizmente, no estado em que o invejoso se encontrava psicologicamente, não chegaria nem perto.
Resolvi, numa das rodas de chimarrão que sempre ocorrem envolta da minha mesinha de centro de mármore branco, colocar este assunto na pauta. Vejam bem o que saiu:
Palavras do Paulo:
“Quem nunca se pegou pensando que o Fulano é que é feliz, porque tem o emprego dos sonhos, tem a família, pai e mãe presentes, os irmãos e principalmente os cunhados que nunca incomodam, aparenta ter conforto financeiro, tem os melhores amigos, mora na melhor casa, tem o melhor carro (que com certeza foi adquirido sem esforço nenhum, nada de financiamento em 48 vezes), tem uma aparência super-mega atrativa, forte, musculoso, definido, rosto bonito e olhos claros, e com tudo isto, podes ter certeza, tem a companheira que todo mundo sempre quis ter, linda de morrer, meiga, carinhosa, atenciosa, honesta, fiel e boa de cama. Chega a dar raiva como ele aparenta ser melhor do que eu!”
Realmente, a grama do vizinho é sempre mais vistosa e verde do que a nossa?
Invejar as aparentes felicidades alheias é tão comum assim?
O porque que sempre digo “aparente”, porque na maioria das vezes, a felicidade alheia é algo que nós constatamos erroneamente. Isso mesmo, nunca ninguém é como nós imaginamos, e nunca ninguém é nem de perto inteiramente feliz. Pensemos bem: aquele seu colega de faculdade, que é tremendamente popular com o sexo oposto, vive rodeado de amigos, é rico até não poder mais, faz festas todos os dias, e, além disso, ainda é super inteligente, passa sem esforço algum... isto tem sempre uma explicação por trás, ou seja, na lei da causa e razão, há sempre uma razão. Pense bem, na maioria dos casos, este colega bonitão é esforçado, dedicado, e aprendeu sozinho a ser atraente, mas com certeza, no nosso entendimento não fez por merecer tanto sucesso.
É pelos caminhos tortuosos que a mente humana tem por características que se consegue este sucesso. Conheces o ditado aquele que diz que o que é vistoso aos olhos é sempre agradável ao coração? Pois é...
As pessoas desejam sucesso, felicidade, sexo, riqueza, boa aparência e popularidade, e é ai que está o porque que nos atraímos por quem aparenta ter tudo isto. É justamente por isto que preferimos ter amigos assim, casos assim, namoradas assim. Nós sempre nos sentimos atraídos por quem tem beleza, riqueza, inteligência e bom humor. Mas não se esqueçam, isto não é nada sem o conjunto que define o amor.
As qualidades exarcebadas, ou as que são mais se expõem na batalha pela propaganda pessoal, são sempre as mais fáceis de serem notadas e julgadas, por serem as que saltam as olhos nos primeiros momentos, e claro, são as que são valorizadas por pessoas, digamos assim, pouco experientes. Para se sentir atraído(a), bastam apenas 2 segundos.
Entendo que não adianta muito estar ao lado de alguém muito propagandeador de suas próprias qualidades. Não adianta de nada. Que tenha 10 (dez) defeitos fáceis de enxergar, mas que seja correto, honesto e que saiba valorizar o que realmente valha a pena. Alguém em quem possamos confiar, alguém em quem possamos contar nas horas difíceis, enfim, que seja amigo também em sentimento, e não só nos momentos de rizadas, festas e cabeças cheias de Polar bem gelada.
A coisa se agrava se estamos procurando uma companheira, uma namorada, alguém para se amar. Hoje em dia é muito difícil achar alguém que agrade em quesitos essenciais, como fidelidade, carinho e respeito. E as que agradam, ou não deixam nada se desenvolver por falta de empolgação, ou porque estão “fechadas para balanço”, por culpa de alguém ai que as fez mal. Não sabem as oportunidades que perdem... a quantidade de cavalos encilhados que deixam passar.
Mas voltando para a estrada principal... Porque não se acham muitas que se salvam?
Porque hoje em dia as pessoas (leia-se neste caso, as gurias) estão muito preocupadas com a aparência deles, com a beleza deles, com o dinheiro deles, com o carro ultimo modelo vermelho deles que é equipado com dvd e rodas aro 18, no Nike Shox azul e prata nos pés, com o camarote naquela festa de sábado, com o pagode de domingo, com os amigos que as fazem rir, com as falsas amigas que na primeira oportunidade as tratam mal, falam mal delas pelas costas e roubam seus “ficantes” (- “mas qual é o problema...?” Elas se perguntam... – “Elas são legais e divertidas mesmo...”).
É muito difícil arranjar alguém que seja companheira, honesta, fiel, carinhosa e querida (veja bem, não estou enumerando aspectos do tipo riqueza ou beleza...). Porque (novamente)?
Porque este tipo de menina pode até querer, mas não se sente atraída por um homem cavalheiro, fiel, querido, companheiro, trabalhador e carinhoso... mas sim por aquele cara que tem todos os “pseudo-atributos” aparentes apenas aos olhos, e que na verdade escondem muitas mazelas das pessoas, ou seja, ele é bonitão, sarado e rico, mas em realidade ele é cachorro, infiel, mentiroso e violento... ou seja, tudo que elas querem é ter trabalho e estresse. De verdade.
Mas também pudera, fazendo um comparativo infame, acho que estou procurando ternos Hugo Boss (originais) na Pompéia ou na Barateira. Ou seja, às vezes sou muito descrente que posso procurar e achar alguém que me faça bem em determinada amostra da população feminina brasileira. Fazendo um comparativo mais infame ainda, é impossível achar um cordeiro vivendo em meio de lobos...a não ser que esta menina esteja escondida, trancada em seu próprio mundo, seu próprio trabalho, ou seu próprio apartamento, procurando pelo mesmo que eu procuro. E como eu, não achando.
O interessante é que o ponto ao qual quero chegar é um ponto que trás muitas duvidas e incertezas, é quando a gente se questiona se ser uma pessoa correta e verdadeira é tão válido assim, a ponto de querer trocar esta verdade e realidade por um projeto falso de vida, ou seja, o carro vermelho com roda aro 18 e o Nike Shox.
Será que é isto mesmo? Será que para nos sentirmos valorizados precisamos ser o que não somos? Acho que está resposta é afirmativa para muitas pessoas. Felizmente não para mim. Não me deixo estragar.
Digo porque conheço, mas não vou generalizar. A maioria das pessoas que tem este tipo de aparência que citei são pessoas que na sua vida pessoal, mesmo que não admitam (nem para si mesmo) são vazias, entediadas e infelizes. E infelizmente, as meninas que se sentem atraídas e acreditam que esta é a maneira correta de se viver também sentem este mesmo vazio no peito, na vida, no cotidiano e como na maioria dos indivíduos de amostragem, no cérebro.
Viver e querer mais são na minha opinião, querer uma vida tranqüila, não viver exclusivamente de obrigações, reconciliar-nos com nossos defeitos e fraquezas, termos expectativas de melhoras (que por si só, já são um entusiasmo), é querer ventilar a cabeça, esquecer os problemas, não se sentir tão responsável, saber fazer as nossas escolhas, é conversar com estranhos, é escutarmos e confiarmos em nós mesmos, é se divertir sem ter que se preocupar com o que os outros estão pensando das nossas roupas, cabelos, carros, sapatos e aparências em geral. E principalmente, abrir o peito para quem vale a pena, parar de gastar tantos dias, semanas, meses ou anos “fechada(o) para balanço”.
Todo mundo sabe que o produto não é somente a embalagem, alias, a embalagem é algo que engana muito. Não adianta querermos transparecer algo através desta embalagem se na realidade não somos nada daquilo. Podemos atrair pessoas, mulheres e amigos, mas na verdade somos sozinhos, secos e vazios.
Querer mais é querer estar com alguém que quer mais do que isto, mais do que músculos, cabelos desgrenhados com gel e camisas da Diesel (se bem que elas caem muito bem em mim), é querer alguém que seja resolvida, que enfrente os problemas da vida com cabeça erguida, que não seja egoísta, e que queira mais, muito mais...
Quero alguém a quem eu possa fazer carinho, o quanto puder, sem ouvir reclamações de que se é grudento ou carinhoso demais. Quero enche-la de beijos e cafunés. Quero estar com alguém que seja atenciosa e compreensiva na maior parte do tempo, para que os momentos de dificuldade que infelizmente e compulsoriamente são maioria em nossas vidas, sejam enfrentados de maneira diferente, com mais otimismo, e que ofereça um de seus seios confortáveis para que eu possa ficar abraçado e me sentir protegido. Quero alguém que seja mais do que uma namorada, que seja uma amiga, que seja fiel, e que me ajude. Quero alguém que seja mais que uma namorada/amiga, que seja amante também.
Quero alguém que queira ir para frente, e que não se iluda que são em festas e roupas que a felicidade própria é alcançada, e os problemas da vida são resolvidos, alguém que não dê tanta importância a baladas e jogos de aparências.
Quero mais, quero muito mais. Quero alguém que queira muito mais do que isto.
E não tenho medo de perguntar: Onde tu estás escondida...?
quinta-feira, 16 de novembro de 2006
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