Neste ultimo final de semana, logo após a picanha e a ovelha de domingo, doente e esperando o Grenal começar, assisti pela terceira vez a um filme que eu gosto muito, “Senhor das armas”. Os diálogos e os dramas, apesar de serem primorosos, não são o que mais me chamam a atenção quando assisto a este filme. O comentário que vou fazer é decorrente de um ator coadjuvante, que eu não lembro o nome, apenas do personagem: Presidente/ditador de Serra Leoa André Baptiste.
Como sempre explicitado, poder, medo e riqueza eram suas armas. Mas isto não é o que mais me chamou a atenção.
Eu quero falar sobre o olhar deste ditador. Sim, o olhar.
Durante o filme, me peguei varias vezes pensando e examinando o olhar de André Baptiste. Vou descreve-lo:
Sobrancelha esquerda levemente levantada, olho direito ligeiramente cerrado, queixo saliente apontando sempre para a testa de seus interlocutores, olhos profundos. Aquele olhar que exprime personalidade forte, expõe análise, que deixa medo, receio e impõe respeito.
Sabedoria popular: “O olhar reflete a alma”. É verdade, pense bem, você com certeza tem guardado nas suas memórias, o olhar do seu pai quando tu fizeste algo de errado quando era apenas um menino, o olhar de ternura de alguma criança meiga, talvez até aquele olhar de desprezo da pessoa que amávamos, que tanto nós temos medo. Todas as maneiras de se lançar um olhar dizem algo.
Veja só, quantos de nós já nos deparamos com olhares apaixonados em inicio de namoro, aqueles olhares silenciosos, meigos e carinhosos, olhares que expressam sorriso e alegria, que ao mesmo tempo em que há total silencio, estão dizendo tudo o que deveria ser dito.
Ou talvez aquele olhar de desejo, aquele olhar que expressa o quanto que a pessoa te quer e como ela te quer. Ou talvez aquele olhar de tristeza, em que ela diz quase tudo o que se esta sentindo em apenas alguns segundos de silencio e pensamentos. Pensem bem: Nos momentos mais íntimos, um olhar de satisfação e desejo diz tudo não? Ou talvez aquele brilho no olhar... geralmente as pessoas não precisam dizer nada sobre sua condição quando se encontram com um brilho no olhar...
Um olhar bem dado geralmente tem o poder de dizer muitas coisas, isso sempre foi assim. O problema é o olhar falso, ou melhor, é quem sabe usar um bom olhar falso para conseguir o que quer.
Lembre-se, da mesma maneira que o olhar nos convence do o que é a realidade, não necessariamente esta realidade é verdadeira.
Há pessoas que sabem utilizar-se deste recurso.
Pergunte a alguém que já foi enganado por alguma menina o que acha sobre os olhares que esta pessoa expressava. Paixão, carinho, desejo, respeito e honestidade? Uhum...
Até onde vai a verdade no olhar das pessoas? Será que isto existe?
Acredito que só quem tem coração puro não tem a capacidade de enganar alguém através do olhar.
Mas meu Deus, quem que tem neste mundo coração puro?
Poderíamos dizer que são apenas as crianças, os únicos seres ainda não influenciados pelo “mundo lá fora?” O olhar de satisfação de uma criança é algo de belo, justamente porque é verdadeiro, real e sem maquiagem. Assim também como os seus olhares de susto ou de tristeza. Estes pequenos seres nunca receberam influencia direta de pessoas mal-intencionadas, influências estas que, pelo menos nos seus níveis de percepção, podem mudar o seu jeito de ser, ou levantar/abaixar possíveis barreiras futuras.
O sorriso no olhar de uma criança demonstra a alegria no seu estado mais puro e refinado, satisfação, felicidade, carinho e amor.
Mas pensando bem. Quantos de nós já não fomos enganados por algum olhar falso?
Acho que todos temos uma historinha pra contar.
Mas isto são coisas da vida. As pessoas são por natureza, boas ou más, ou talvez, boas e más.
Não consigo utilizar meus olhares falsamente. Sou um péssimo ator. Não sei nem como disfarçar uma noite mal dormida (todas, talvez), por exemplo.
Enfim, nossas emoções nunca deixam de ser demonstradas através dos olhos, sejam elas de qualquer gênero ou amplitude. Se existe alguma maneira de mentir melhor, usa-se o olho. Sempre.
O Ditador do filme que assisti impunha seu poder, respeito, admiração através do medo.
Eu e mais bilhões de pessoas queremos de certo modo, algumas coisas em comum com isto, mas de maneira diferente: queremos obter respeito pelo nosso olhar, mas não expondo as pessoas a medo, e sim, honestidade e lealdade. Queremos que as pessoas nos admirem através destas virtudes, mas uma admiração verdadeira, fruto da realidade de nossos sentimentos. Queremos deixar os nossos olhares demonstrarem todas as nossas emoções: carinho, paixão, desejo, tristeza, cansaço e raiva, sem nenhum tipo de receio de estar sendo fraco. E o principal de tudo: queremos explicitar nos olhos sem medo algum quando amamos alguém, sem medo ou receio de sermos rechaçados, principalmente pela pessoa amada.
Pensando bem, estou pedindo um direito básico.
O de demonstrar amor.
O problema é garimpar alguém que queira este tipo de demonstração...
quarta-feira, 8 de novembro de 2006
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