sexta-feira, 10 de agosto de 2007

O pequeno Rafael...

Todo mundo fica falando sobre sua própria infância. Eu vou falar da minha também.Lembro muito de viajar de pé no banco traseiro da Caravan 6 cilindros a álcool do meu pai, engraçado como não morri. Lembro também dos sorvetes de maria-mole, aqueles que vinham com bonequinhos de plástico dentro. Me recordo de tomar banho de chuva na praça na frente de casa, só de bermuda laranja, e nunca me gripar por isto. Pior! Não tinha essa de água engarrafada, era tudo da torneira e olhe lá! Lembro dos carrinhos-de-lomba com freio de mão... só que ao invés de borracha na ponta do mesmo, os meus tinham parafusos! Frear não freava, mas que soltava uma faisqueira...
Lembro de escutar os LP’s do Erasure da minha irmã mais velha. Lembro também da Kaoma, da Gretchen, do Chacrinha e da Rita Cadillac. Faustão existia, mas era na Bandeirantes que passava. Gugu era só no Viva a noite. Era um festival de programas humorísticos na TV: Chico City, Viva o Gordo com Jô Soares fazendo o Capitão Gay (me lembro de não entender o que era gay, nem porque aquele gordo aparecia vestido de rosa... na época as crianças ainda conservavam a inocência que hoje é tão rara...), e o melhor de todos, Os Trapalhões em sua formação completa. Lembro muito do Mussum falando “mézis” e da risada estranha do Zacarias, assistia a eles depois da missa de sábado a noite, que todo o bairro frequentava. Me recordo da minha mãe pedindo pra mim levantar e trocar o canal, não existia controles remoto naquela época. Lembro da Mara Maravilha, que pousou para a Playboy logo depois e meu pai não me deixou ver, do Sérgio Mallandro e da porta dos desesperados, da Xuxa e seus desenhos da caverna do dragão, da seleção jogando a copa de 86 e perdendo nos pênaltis para a França e do Grêmio perdendo o grenal do século. Lembro muito das figurinhas do campeonato brasileiro, e do maldito Tupãnzinho que era sempre a última, e nunca vinha. Me recordo com muito carinho das manhãs de domingo, e do meu maior herói em ação: Ayrton Senna...
Recordo-me de quebrar os dentes na escola, e quase não chorar. Lembro de que era o melhor em tudo: da classe, com as meninas, nos esportes, na catequese... não sei o que houve com o tempo, só sei que isto ficou perdido pela infância... Lembro de brigar com os meus vizinhos, e nem sempre levar a melhor. Mas o engraçado era que meia hora depois todo mundo era amigo de novo. Lembro dos revolveres e pistolas de brinquedo e de brincar de guerrinha, com batalhão, general e tudo. Engraçado como ninguém virou um serial killer ou um psicopata com isto...Lembro de comer pão com margarina, pão com manteiga, ovo frito no café da manhã, ovo frito no almoço, ovo frito na janta e meu colesterol hoje é perfeito. Refrigerante era bom... mas era meio raro. E quando vinha, vinha em garrafas de vidro de 1 litro, que depois viraram 1,250 litro, me recordo de ajudar o pai a ir ao vasilhame do super (não existia hiper, macro, atacado, big, bourbon, era só o Zaffari, Real ou Nacional) e entregar os cascos para ter desconto nas garrafas cheias. Dividíamos copos, sucos, cafés com leite e Nescaus... e ninguém pegava vermes de ninguém.
Tocávamos campainha e saíamos correndo. Organizamos corridas de bicicleta, onde quem não tava de chinelo quase sempre ganhava. Brincávamos com pequenos seres nojentos, lesmas, caramujos, baratas, etc, e ninguém se encheu de vermes de novo. Brinquedos novos eram só no natal ou no aniversário. E mesmo assim, geralmente eram usados, vindos dos irmãos mais velhos, assim também como as roupas, as bicicletas (monaretas, caloi-cross e BMX), e eu nunca fiquei bravo ou entrei em crise existencial por isto.
A gente tinha que se virar. E era bom. A gente sofria, mas aprendia. Por incrível que pareça, sobrevivi a tudo isto e não sou uma pessoa louca, doente ou de qualquer maneira com a vida arruinada. As preocupações eram menores antigamente, e a incidência de crianças infelizes também era. Éramos criados num ambiente de respeito, aonde o não de um pai às vezes vinha só por olhar, e era prontamente correspondido. Tínhamos liberdade (não existia celular, e-mail, msn, orkut ou afins), felicidade, algumas vezes problemas e desilusões, mas tínhamos muita responsabilidade no que fazíamos. E isso surtiu efeito no futuro que se seguiu.
Nascemos e fomos criados em época de transição, da repressão para a liberdade, da ditadura para a democracia, do falso caçador de marajás deposto para aqueles que estão cercados por ladrões comprovadamente culpados e fingem não saber de nada do que acontece. Vimos pessoas morrerem, pessoas desaparecerem, e pessoas sobreviverem, exatamente igual ao que continua acontecendo. E continuamos aqui.
A vida que tive no passado, sinto saudade. A vida que tenho agora, tento aproveitar. E a vida que terei pela frente, não sei como será. Só sei que tento me preparar, mas as coisas estão em constante e cada vez mais rápida mutação, e ninguém é tão rápido quanto o mundo girando, dia após dia, noite após noite.
Apenas uma coisa me alarma acima de tudo.
Se Deus me proporcionou viver a minha infância num período de tantas mudanças, o que estará reservado para a minha vida adulta...?

Ou pior... para minha velhice...?

7 comentários:

Sabrina disse...

"...Por incrível que pareça, sobrevivi a tudo isto e não sou uma pessoa louca, doente ou de qualquer maneira com a vida arruinada..."
Vc tem certeza disso q escreveu???
Hahahahaha Brincadeirinha querido!
Amei isso tudo que tuescreveu! Tão legal lembrar como era a infância na nossa época... gostei tanto que me permito ressaltar algumas coisas das quais sinto imensa saudade tb... tipo, pogobol! Lembra??? Aquela bola que tinha um aro envolta pra gente subir em cima e ficar pulando como loucos!!! E os lango-lango? Que monstrinhos mais feios! Bah, chego a ficar com água na boca qdo lembro das balas xaxá... de banana, que tinham o papel marrom! hehehe tb tinham as balas soft redondas que podiam matar a gente asfixiados (apesar de q eu não conheço ninguém q tenha morrido assim!) ;-))) Mas, o q mais me dá saudade são as famosas reuniões dançantes, ou festas de garagem, como queiram! Cara aquilo era mto bom! Ficava todo mundo se querendo mas ninguém se pegava pra valer! hahaha só ficava na vontade! Tocava música lenta e a gente bebia refri! hahaha qta inocência... se fosse hj, a galera já ia largar uma smirnoff ou um passaport dentro do refri e a seqüência dos fatos a gente pode imaginar...
Enfim, que tempo bom que não volta nunca mais...
Ah, lembrei de mais uma coisinha...
"só para constar nos autos..." lembra disso??? hahaha
Acho q a nossa geração foi a mais feliz de todos os tempos!!!
Bjo grande pra ti!
PS: Vou parar de escrever, pois afinal o blog é teu, né?! :-))
Bina

Rafa Pires disse...

Bina amada!
Tu acreditas que Pogobol, Lango-lango, Genius, e etc's eu nunca tive? Na época todos estes brinquedos eram muito caros, eu vivia pedindo, mas ninguém tinha condições de me dar! E como na época não existia similares vindos do Paraguai... "por incrível que pareça, sobrevivi a tudo isso e não sou uma pessoa louca, doente ou de qualquer maneira com a vida arruinada" Hahahaha...!
As balas xaxá eu tenho imensas saudades, me lembro que a minha mãe comprava mariola e me dizia que era "bala xaxá em barra", ai eu comia feito louco... as balas que matavam asfixiado eu não comia... deve ser porque matava asfixiado...
As reuniões dançantes que eu frequentava já tinham um grau maior de "sacanagem", por assim dizer. Eu já dava uns beijinhos na boca escondidos na época...
Já pensou hoje em dia? Será que nós aguentaríamos frequentar uma festa inteira regados apenas a fanta uva dançando Roxette? Hahahahaha...
Hahahahaha... Não acredito que tu lembrou desta frase...! Era marca registrada minha! Que linda! Hahaha... (agora fiquei com medo de consequentemente e inconscientemente começar a usa-la denovo...).
Só pra constar nos autos do processo... (ahahahaha)... o blog não é meu Darling, sou apenas o autor dele. Ele é de todos que se aventuram a frequenta-lo e a ler os meus devaneios...portanto, sinta-se a vontade para fazer os mais extensos comentários possíveis...e qtos quiseres tb!
Por fim: este tempo bom, não volta nunca mais mesmo....

... mas nada impede de os tempos presentes e futuros serem melhores ainda...

Sabrina disse...

Ah, sim, tu tá querendo dizer que eu era "riquinha"??? Não era não... eu nunca tive uma Barbie por exemplo! E tb não existiam as falsificadas... hehehe
Bjooooo

Bina

Anônimo disse...

Querido, primeiro, estou morrendo de ciúmes...
Não estou em nenhuma foto nesse blog... LOGO EU!! A prima mais querida...
Bom, quanto ao artigo, só uma coisa:
TU É VELHO, HEIN??!! hahahahah
Só faltou lembrar dos Menudos, e New Kids on the Block!! Os precurssores das bandinhas-de-cinco-bem-pop!! hahahaha
Tô com saudades.
Bju

Rafa Pires disse...

Amada,
Não estás em nenhuma foto, porque será? Seria porque o Wagner tava doente e além do que a Chivas tava parindo? Ou seja... tu não foi!
Mas deixa... vou te recompensar...
Velho posso ser... Mas garanto que tu te lembras de cada uma das coisas que eu citei... ou seja... tu tb é!
Tb to com saudades Darling!
Bjos no coração!

Cássia Suri-Plam Fincato disse...

Ó, primeiro, eu morei a vida inteira no interior, né?
Tem coisas aí q tu citou q vieram a fazer parte da minha vida há 6, 7 anos somente...
Tipo, lá em Guaporé, a Capital da Hospitalidade (hahahahaha) não tinha Zaffari, Nacional... A gente tinha o Zandei e ... só!! hahahahahaha
Já o BIG, esse sim, sempre q a colonada destemida se dispunha a percorrer os 450 Km, de Guaporé até Arroio Teixeira (hahahahahahaha - morri de rir agora!! Lembra q tenho q t emprestar um livrinho do Radicci...) a gente dava um jeito de parar a F-1000 no "Macroatacado Nacional", ali onde é o Maxx agora... ah, como era bom passear no super!! hahahahahaha
Foi lá q uma vez eu JUREI q minha mãe tinha te comprado um Lango-Lango (esse tu esqueceu de citar!!)amarelo limão, q eu queria-porque-queria, mas nunca ganhei!!
Tive raiva de ti por causa disso, mas qdo descobri q tu não ganhou tb, muito menos da "dinda", passou, e nós viramos amigos!! Além do quê, sempre lembro q tu não gostava de ganhar chocolate na Páscoa... eu queria não gostar de chocolate como tu!! Sempre te respeitei por isso... hahahahaha
Ah, voltei da colônia há pouco... tive lá resgatando fotografias... te mando assim q escaneá-las. Descobri um menino lindo, lindo, lindo, fazendo beicinho do lado do Matias... heheheh
Muitos beijos, te amo querido!

Rafa Pires disse...

Menino lindo...????
Só pode ser eu!!!!
Hahahaha...
A colonia (Guaporé) me dá saudades enormes das épocas de infância. E tu tb estas incluída nestas lembranças (e o teu bordão: "stúpidó!")
Então... era o que eu vivia te dizendo... eu nunca tive Lango-Lango! hehehe...
Macroatacado foi parte da minha vida inteira! Era ali que faziamos os nosso ranchos...
A F-1000! Eh verdade! Lembra que o teu pai tinha a F-1000 e o meu tinha uma D-20? Lembrei também do Buggy vermelho de vocês... tudo faz parte da infância deste ser aqui...
Zandei... isto existe ainda???

Bjos no coração amada!

Amo-te tb!