sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Crenças

- “Agora o problema é de outro!”

Foi isto que o Paulo me disse quando eu perguntei o que ele ainda sentia pela sua ex-namorada. Simples assim, e seco, bem seco.
Eu conheço o Paulo. Uma das únicas pessoas que eu posso dizer com toda certeza que conheço. Eu consigo saber realmente quando ele fala a verdade. E essa foi uma.
Geralmente as pessoas usam sentenças como estas como se dissessem algo para se rebelar, algo falso e mentiroso, que pode ser traduzido em “eu ainda a amo, mas tento mentir pra mim mesmo e pros outros que não”. Mas o Paulo desta vez falou a verdade. Verdade verdadeira.
Será que este é o caminho natural?
Com certeza. Acredito realmente que chega um ponto em que a pessoa deixa de amar alguém, e passa a enxergar o que até o Jacinto Cearense (que só me vende melancia estragada) enxergava. Não valia a pena. Ela era uma bomba, uma traste, um problema sem fim.
Era como se toda esta obvia constatação nunca houvesse existido. E realmente, a constatação não, mas os fatos, estes sim, estavam debaixo do nariz dele o tempo todo.
Os fatos eram que ela era até feia, chata, incomodativa, antipática e interesseira. Mas ele a achava linda, queridíssima, um anjo de pessoa e super honesta. Que coisa. Como o coração tem o poder de maquiar o que é tão claro...
Velho clichê: “O amor é cego”. Então enxerga Jatobá!
Mas isto não é o mais interessante. Eu vejo este tipo de coisa como uma evolução sem fim. Não é só o fato do Paulo ter enxergado finalmente o tamanho do problema que ele se livrou, isto é só uns 20% do bolo todo, a grande realização é ele ter superado o ciúme natural e avassalador que geralmente se sente quando se sabe que a ex-pessoa amada esta com outro, e passado simplesmente a não se importar mais com isto, a ponto de dar risada e ter pena do tal fulano, sabendo que o mesmo está se enganando igualzinho a ele num passado ressente. Ele passou a crer nisto.
Imaginem só, o alivio que dá. É como se tu te livrasse duma dívida financeira, simplesmente repassando-a para outra pessoa. Simples assim. Ou pelo menos deveria ser simples assim. Não é, eu sei. Mas chega um ponto que se transforma.
O sentimento de posse é algo que é difícil de esquecer. Aquela sensação de que a outra pessoa te pertence é errada, todos nós sabemos, mas é algo que todos nós sentimos também. O Paulo conseguiu superar isto. Superar o sentimento de que a ex era dele, e de que alguém estava tomando o seu lugar. Ele conseguiu entender que na verdade, aquele lugar (graças a Deus) não era dele. Não era dele também o dever de carregar o fardo de urtiga que era aquela guria.
Ele me disse mais:
- “Demorou para poder ver que eu me livrei do maior problema que eu já tive na minha vida. Demorou muito. O que acontece é que mesmo sendo um problema, a gente mesmo fica se enganando. As vezes até de propósito.”
Traduzindo: tudo é crença.
As crenças funcionam através de um circulo que óbvio, não acaba nunca.
É mais ou menos assim:
As partes integrantes, em ordem, são: o que a gente acredita, as crenças definitivas, as emoções e o que a gente transparece (o nosso comportamento).
Funciona deste jeito: digamos que tu acreditaste a tua vida inteira que tu não gostavas de azeitona. Isto se transforma numa crença definitiva. Tu não gostas mesmo de azeitona. Esta crença te levará a ter sentimentos, como se tu visses o vidro de azeitonas aberto, sentisse o cheiro, e te enjoasse. Chega uma hora que tu transpareces este repugno todo para os outros, e eles também constatam que tu não gostas das pequenas bolinhas verdes. Pronto, tua crença esta confirmada até pelos teus amigos. Hora de acreditar no que os outros te dizem. Ai começa tudo denovo.
O que os outros te disseram tu acreditas, que gera uma crença definitiva, que gera um sentimento/emoção sobre o assunto, e que gera uma atitude, um comportamento, uma transparência. E assim vai indo. A cada volta que isto dá, mais esta crença ficará enraizada.
Detalhe: digamos que tu não gostes mesmo de azeitona. Só que tu nunca nem ao menos provou.
Como que tu sabes? Tu nunca nem sentiu o gosto! Tu nem ao menos constatou se ela é ruim mesmo ou não.
Chegou a hora de colocar em cheque. De fazer o julgamento. Tu decides provar a tal da azeitona. Tu pegas aquele garfinho, enfias no vidro e procura a menor delas. Tira do vidro e colocas na boca.
Logo na primeira mordida tu constatas que azeitona é ótimo! O gosto azedinho é super bom pro teu paladar.
Pronto. O circulo foi interrompido. O que tu acreditavas acabou de mudar. A tal da azeitona é gostosa! Isto vai gerar uma crença diferente sobre o teu gosto por azeitonas, agora tu passaste a gostar delas. O teu sentimento de repulsa e enjôo desapareceu. Tu até passaste a gostar muito daquele cheirinho de conserva que o vidro aberto exala. Os teus próximos vão ver isto, e vão até comprar vidros da bolinha verde para colocar encima da mesa nos jantares. O vidro vazio vai te confirmar o que tu já acreditavas. Tu amas azeitona! E tu passas a crer que tu não só gosta delas, as ama! E assim vai...
O Paulo fez o mesmo. As crenças dele mudaram. Assim como se passa a amar azeitona, ele passou a não gostar mais da ex. A crer que na verdade, ele tinha que agradecer a Deus pela graça alcançada.
Da mesma maneira que o sentimento pela azeitona passou a ser bom, ele passou a se sentir bem em ter se livrado do rabo de foguete que era a fulana.
As coisas às vezes são mais simples do que a gente imagina. Tudo é mutável. Tudo muda, basta acreditar, para depois crer definitivamente, depois sentir, e tudo ser confirmado. Depois de confirmado, a gente passa a acreditar mais ainda, crer mais ainda, sentir mais ainda...Etc...
Nada é definitivo. Nada é para sempre. Não existe verdade absoluta. Ninguém nos diz que temos que fazer, acreditar, crer e muito menos sentir algo do qual não gostamos.
Se as coisas não ficaram muito entendidas, procurem por “psicoterapia cognitiva” no Google. Tudo vai ficar bem claro.
Dêem a chance. Façam o teste. Esforcem-se antes de tudo em acreditar em algo diferente.

Pensem bem: o que é mais fácil? Mudar o que a gente acredita ou mudar um sentimento de amor ou ódio?

Pois bem...

O caminho para mudar os sentimentos é justamente mexer nas tuas crenças...

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