quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Emoção no casamento

O Paulo estava sentado do meu lado na cerimônia. E a mesma estava demorando demais, sem falar no calor porque o ar condicionado da capela estava estragado.
Enquanto o padre dizia e falava tudo o que é de praxe em uma cerimônia de casamento, aquele velho e bom “você aceita, na saúde e na doença...”, derrepente eu vi meu melhor amigo ficar branco e quase desfalecer sentado. Preocupei-me muito, mas não fiz alarde. Tratei de segura-lo e tentar reanima-lo ali mesmo, sem que quase ninguém percebesse. De pronto pensei que a pressão abaixou (terno e gravata no verão sem ar condicionado é phoda...), eu padeço do mesmo problema. Logo perguntei, quase sussurrando:

- “Paulo! Paulo! Que tu tens tchê!
- Nada não véio. Nada não.
- Mas como nada o Bagual! Tu tá quase desmaiando!
- Já te disse que não é nada tchê!” – Em tom de quem não esta com muita paciência.
- “Ta bom. Também não te carrego pra fora se tu desmaiar.
- Tu realmente não viste o porque que eu to assim?
- Não cara!
- Depois eu te falo então. Agora presta atenção na cerimônia que o André ta quase fugindo do altar...”

O André não fugiu do altar. Até porque o cara deu um tiro na lua e conseguiu acertar. A esposa dele é o uma baita mulher. Em todos os sentidos. Realmente veio a somar com ele. E muito.
Mas enquanto isso o Paulo começa a sair da brancura momentânea e melhora gradualmente. Enquanto isto eu fiquei matutando o que poderia estar acontecendo com ele. Será que ele comeu algo que fez mal em casa, e agora ta com dor de barriga e com vergonha de dizer...? Será...?
Fiquei olhando mal encarado pra ele, tentando aguçar o meu olfato para ver se eu conseguia sentir algo estranho no ar. Mas a única coisa que eu conseguia sentir era o Givanchi que eu dei pra ele quando eu fui para Foz do Iguaçu buscar muamba. E o perfume era muito bom. Descartei a possibilidade da flatulência.
De tempos em tempos ele passava mal de novo, e nos ataques de choro, eu percebi que o problema dele não de ordem física, mas sim emocional. Mas... será que o Paulo ta tão carente assim que chega a estar chorando em casamento? Chorar em filme eu já vi ele fazer, e que ele não me leia, mas até em novela também, agora... em casamento não! Ai já é exagero.
Resolvi perguntar:

- “Paulo... tu ta bem mesmo cara...? Posso te ajudar em algo?” – Eu preocupado, claro.
- “Eu to tranqüilo Dão. To tranqüilo. Depois eu te falo o que ta acontecendo agora.
- Se tu precisares de algo me avisa...
- Fica tranqüilo que eu sei que tu és canhoto.
- Não sou não veio. Sou destro.
- Vai te cagar! Isto é gíria nova...
- Ah ta... depois tu me explica que historia é esta de canhoto.
- Ta, presta atenção que o André ta suando feito um porco...”

E realmente estava. O coitado tava vertendo litros d´água. Eu cutuquei um tio dele que estava pertinho de mim, que por sua vez estava pertinho de onde um dos irmãos do noivo, que não era padrinho, estava sentado. Avisei-o para que alcançassem um lenço. Não demorou muito o irmão do guri foi lá e alcançou um lenço branco, que com certeza era algum guardanapo de linho roubado de restaurante chiquetoso.
Mas o Paulo. Bem, a cabeça do Paulo a cada cinco minutos levantava, saia do eixo, rodopiava 720 graus e se encaixava no lugar de novo. Ele chorava, ficava branco, enxugava os olhos e voltava a si. E eu ainda sem entender nada.
Depois do beijo, e do tão clássico “Eu vos declaro, marido e mulher”, os noivos saíram, seguidos dos pais e dos padrinhos, e o Paulo não quis se levantar pra sair da capela. Ai eu comecei a reclamar:

- “Pronto. Sabia que ia travar...
- Travar o que cara?
- Travar! Empacar! Tu ta é com o sistema corrompido ai dentro né Tchê...
- Não me enche o saco! Tu realmente não viste nada?
- Não. Não vi. Faz o favor de me explicar que daí pelo menos eu posso te ajudar em algo...
- Não. Não pode. O que tu vai fazer? Dar uma porrada nele e separar os dois?
- Paulo. Não te acredito... o André recém casou e tu já ta botando o olho na mulher dele...
- Cala a boca Tchê! Nada a ver com o André. To falando do casalzinho de pombinhos que estavam em pé, abraçadinhos e apaixonados, trocando carinhos e beijinhos lá trás...
- Quem? – Apesar de não ter visto, eu já imaginava quem era.
- Minha ex...minha ex...
- Paulo...tu tem certeza que era ela?
- Tenho. Quer dizer...eu só a vi de longe.
- Então tu não tem certeza. Se uma pessoa com oito graus de miopia e sem óculos consegue ver alguém a 20 metros de distancia e dizer quem é, ela com certeza esta mentindo pro Oftalmo...
- Pois é.
- Me mostra ela que eu te digo se é ou não.
- Ta bom.”

Saímos da igreja a cato da guria. Durante o tempo de procura (o Paulo resolveu deixar a vaidade de lado e colocar o óculos dele), ele começou a ter um pití violento. Começou a tremer de nervosismo, ficar branco-gelo, suar frio, a voz começou a roquear, e depois a sumir. Ai eu perguntei:

- “Como que ela poderia ter vindo a este casamento Paulo? Se com toda a certeza ela não conhecia nem o André e nem a Adriana?
- Vai saber veio! Vai ver o fdp que ela tá namorando conhece um dos dois...
- É...tem lógica. Mas com que roupa que ela tava?
- Na deu pra enxergar muito. Mas eu acho que era uma blusinha tomara-que-caia vermelha e uma calça escura. Parecia ser jeans.
- Então tu vai querer te cortar os pulsos se eu te disser algo.
- O que? Ela tá aqui atrás?” – Pergunta ele tremendo mais que vara-verde.
- “Tá sim. Mas tem outro detalhe...
- O que? Ele tá junto?
- Não. É que não era ela...
- Ah ta...!
- To falando cara! Não era ela!”

Incrédulo, ele virou-se muito rápido. E viu que na verdade, a sua “pseudo-ex” era a Andréia, uma priminha linda da Adriana, que por sua vez era a noiva (naquele momento, já esposa) do André.
A expressão dele nos 15 minutos subseqüentes era algo que eu nunca vi numa pessoa. Um misto de alívio com vergonha, ou aquele sentimento que a gente tem quando paga um baita mico por algo que na verdade, não era aquilo que a gente pensava.
Durante o caminho da capela até o Leopoldina Juvenil, onde seria a festa, o silêncio imperava dentro do carro. Quase chegando lá, ele resolve dizer uma das maiores pérolas (besteiras) que eu já escutei na vida:

- “O Dão.
- Quié veio?
- Sabe duma coisa?
- O quê?
- ...Em terra de carentes, ciumentos e ceguetas, quem tá com os óculos na cara é rei...!”

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