terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Inveja

Já escrevi abordando este assunto. Mas sinto necessidade de tocá-lo denovo.
Sendo bem direto, eu tinha para mim que quem sentia inveja dos outros geralmente era eu. Já admiti isto por aqui, em outro artigo que escrevi. Mais do que isto, além de admitir, eu ainda caracterizei a inveja como um sentimento tipicamente humano, normalíssimo em todas as pessoas, e que, portanto, era mais do que normal achar que a vida dos próximos era muito melhor do que a própria.
Só que eu nunca havia nem cogitado uma hipótese. Sempre pensei que a inveja era algo exclusivamente meu (ta, do Paulo também...), nunca havia pensado que o caminho inverso também poderia ocorrer.
Sinceramente e humildemente, nunca pensei que alguém pudesse sentir inveja de mim! Logo de mim!
Sério mesmo gente. Fico embasbacado com isto. Quando alguém demonstrava pra mim que estava com inveja de algo que é meu, ou de algo que eu sou, nunca nem percebi, ou percebia, mas entendia errado.
Que coisa estranha! Porque motivo que as pessoas poderiam sentir inveja de mim?
Eu na minha infinita curiosidade, não poderia perguntar para outra pessoa sobre isto do que para o Paulo. E ele me respondeu:

- “Velho, vê se te orienta o cabeçudo! Tu realmente nunca enxergaste o que tu és? Tu és um cara boa pinta, nunca ficou sozinho nesta vida, nunca teve uma namorada-ficante que fosse ao menos feinha. Isto tudo porque tu és muito carinhoso e romântico com quem tu estas. Trabalha desde os 10 anos de idade, ou seja, já faz 16 anos que tu nem ao menos ficou um dia desempregado, e claro, isto gerou frutos em forma de ganhos, receitas e patrimônios que 80% de todos nós gostaria de chegar ao menos perto. Sem falar no teu nível de estudo, inteligência, maturidade e conversa.
- Tchê! Eu nunca pensei que tu pensavas, ou melhor, alguém pensava isto de mim! Tu estas sendo gentil né...– Eu respondi.
- Não cara. Não to sendo. Tudo isto que eu te falei tu realmente és. Ou eu menti em algum momento?
- Pensando bem...não, não mentiu. Mas eu simplesmente nunca havia enxergado minha vida através desta perspectiva.
- Então ta na hora de começar.”

Realmente. Eu nunca havia pensado/constatado que tudo isto era verdade absoluta. Eu nunca tive razão para reclamar. E já que estou em momento de acordar, abrir os olhos, e realmente ver o que sou, vou puxar a brasa um pouquinho mais pro meu lado.
Além de tudo isto que o Paulo me falou, eu ainda tenho uma família linda, que na maioria das situações esteve ao meu lado, me apoiando e me ajudando no que eu precisasse. Além disto, tenho o maior orgulho de dizer que o suor da minha própria testa me fez conquistar coisas ótimas. Mas foram anos de trabalho duro. Por exemplo: Meu diploma de coméx. Realmente ralei demais para chegar lá. E agora estou ralando denovo, no direito. Após isto pretendo ralar mais uma vez, na psicologia. Quando tudo estiver terminado, não haverá profissional mais qualificado do que eu na área penal/forense.
Mas o que mais me chamou a atenção no que ele me disse foi algo que eu derrepente nunca teria constatado sozinho, só com a ajuda de alguém ou da psicoterapeuta.
Eu realmente nunca fiquei sozinho na vida. Nunca. E também nunca precisei fazer a mínima força por isto. O problema é que até agora eu não consegui achar a menina correta. Ou será que já achei e não vi...? Ah... Sei lá!
Só sei que quando eu escrevi a primeira vez sobre inveja, digo e repito, defendi que este era um sentimento humano normal, mas sem nem ao menos cogitar a possibilidade de que outras pessoas poderiam sentir inveja de mim.

- “Ta na hora de começar a te valorizar o cabeçudo! – Disse o Paulo.
- Eu sei tchê. Eu sei. Mas como se faz isso...?
- Bem simples. Não é tu mesmo que defende que nós temos que mudar nossos pensamentos, aquilo que acreditamos, para depois mudarmos nossas auto-crenças, emoções e comportamentos? Então constata o que é óbvio e muda Zé Ruela!
- Bá velho. Mas é tão difícil...
- Então vai te cagar!”

É verdade. Escrevi aqui estes dias que a gente pode mudar a nossa vida apenas mudando a parte mais fácil e flexível do círculo que a psicoterapia cognitiva explica. O dos pensamentos (o que acreditamos). Se os outros podem, porque que eu não posso também? Já demorei demais pra fazer isto até.

O engraçado foi depois...

- “Paulo, antes que tu vás embora, só me tira mais uma dúvida.
- Diga.
- Tu sentes inveja de mim também?
- Hum...
- Seja sincero.
- Ta! Eu admito! Eu sinto sim! Mas é só por causa das mulheres bonitas! ... E também por causa daquele álbum de figurinhas do campeonato brasileiro de 90 que tu tem completinho. Tem até o Mazaroppi no gol do Grêmio...”

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