segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Comendo tatu...

João era um cara bem legal. Adorava todo mundo, super educado, dava bom dia e boa tarde, perguntava “como é que tá”, dava conselho e ajudava. Tratava a todos muito bem, seja o juiz da cidadezinha onde morava, seja o papeleiro da rua que ele não fazia a mínima idéia quem era...
Ele realmente ajudava o próximo, era uma santa alma. Vivia fazendo doações, comida, brinquedos, roupas, arrecadava o que os vizinhos não queriam mais e destinava a quem necessitava. Dava esmolas, comprava doces e destribuía para crianças carentes, sentava e conversava, a fim de “ajudar o melhor possível” a todas elas. Todo mundo falava muito bem do João. Ele era muito querido e conhecido por todos. Todos diziam que “ele era uma criatura ótima, vive ajudando todo mundo, para o que precisar ele está ai.”

Mas o João tinha um defeito crucial...

Ele tirava tatu do nariz e comia...

Isso mesmo. Coisa mais horrenda...
Na maior cara dura, ele conversando com as pessoas na rua, falando do asilo de velhinhos que estava precisando de cobertores e tal, pedindo alguma doação ou algo assim, enfiava o dedo polegar da mão esquerda, que sempre teve uma unha enorme, na narina direita e tirava o maior tatuzão. As pessoas se assustavam com tamanha porquisse, e não acreditavam, simplesmente não acreditavam no que vinha a seguir: Ele, como se fosse a coisa mais natural do mundo, sequer tinha o trabalho de fazer uma bolinha... simplesmente pegava a sujeira retirada do nariz e que estava embaixo da unha, e limpava no dente canino esquerdo inferior, dava uma mastigadinha com cuidado nos dentes da frente, e engolia.
As pessoas se afastavam, tinha ânsias de vomito automáticas, faziam cara de nojo e proferiam “ecas” para todos os lados, não faziam questão alguma de disfarçar ou escutar o que João tinha pra dizer sobre os velhinhos que tilintavam de tanto frio. Simplesmente saiam correndo quase.
Uma vez ele escutou o seguinte comentário de uma senhora viúva com um vestido vermelho-cortina-floreado cheirando a pó Pelotense: “Se os velhinhos e as crianças comessem sujeira de nariz como o Sr., quem sabe não passariam tanta fome...”
O maior nojo. Mulher então, ele nunca arranjava nenhuma. E olha que ele era um amante/namorado/companheiro exemplar, bem apessoado, era e fazia tudo o que é considerado perfeito pelas mulheres, só não arranjava nenhuma porque tinha este péssimo hábito de higiene.
Mas contra toda e qualquer fama de porcão que ele poderia ter, um belo dia o improvável aconteceu: ele apareceu na praça central desfilando com uma baita gostosona, uma mistura de Alessandra Ambrósio com Tiazinha, altura com gostosura, corpo de modelo mas com curvas, peito-bunda-cintura fina, tudo na mais perfeita harmônia... e o rosto igual ao da Bruna Lombardi nas novelas da década de 70.
O pior de tudo: eles passeavam de mãos dadas e ele praticava o tal hábito vergonhoso na frente dela e de todos, como se dissesse através disto que ela não se importava com ele ser comilão de tatu. Muitas vezes comia o dito cujo e à beijava logo em seguida...
As pessoas se perguntavam como um sujeito tão porco podia namorar alguém tão bonita e perfeita. Pensavam muito, falavam sobre o assunto na barbearia, na prefeitura, no fórum, no café, no Banco do Brasil e na delegacia. Ninguém chegava a uma conclusão. O interesse das outras mulheres da cidade pelo João aumentou drasticamente, elas passaram a olhar para ele com outros olhares, passaram a ver as qualidades, a aparência física, subitamente se sentiam atraídas por ele, como que por feitiço. Os seus defeitos higiênicos estavam quase todos esquecendo. Mas ele só tinha olhos para a gostosona.
Mas pior: a tal moça gostava tanto do João que passou a acompanhá-lo nas suas peregrinações em prol dos necessitados. Quando ele passava de porta em porta pedindo alimentos para os velhinhos, ela estava junto, quando ele ia para a praça montar sua barraquinha de arrecadação de brinquedos para as crianças do orfanato, ela estava ao seu lado.

Até que um dia...

Enquanto João estava atendendo as muitas pessoas que queriam doar quantias variadas para a reforma da cozinha da creche, todos começaram a sentir um cheiro desagradável de ovo. Pior ainda, ovo com leite. Aquele cheiro que criança pequena tem quando, como por brincadeira, solta um pumzinho porque mamou muito e comeu ovo cozido. As únicas pessoas que não reclamavam era o João e sua gostosona, todos se abanavam, os mais exaltados chegavam até a cobrir o nariz com a gola da camisa, para tentar não cheirar aquele odor horrível.
A gostosona insistentemente cheirava a mão, e ninguém se dava muita conta disso. Até que alguém ficou analisando e percebeu o que estava acontecendo. E o porquê do João ter conseguido alguém tão atraente para namorar:

Ela botava a mão em concha na bunda para logo após levá-la ao nariz... ou seja...

Cheirava quase todo seu próprio peido...




(continua...)

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